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Voleio: a menina do Rodo e sua confusão de desejos

Voleio: a menina do Rodo e sua confusão de desejos

“Sapatão!”

A palavra ecoava na cabeça de Juliana, às vezes na voz da mãe, outras nas vozes das amigas, e em algumas ocasiões em sua própria voz. No coração, uma mistura de confusão, surpresa e deleite.

– Bom jogo hoje, Ju. – A voz de Andrea parecia conhecer exatamente o tom e a frequência para dissipar suas inseguranças. – Linda aquela bola de segunda.

“Linda é você”, pensou Juliana. No vestiário, o time de vôlei do Ensino Médio do Colégio Santa Terezinha se trocava depois do jogo. Amônia, suor e desodorante adolescente. E as costas esguias de Andrea, que mexia no armário já sem o top. “Sapatão!”, ecoou novamente.

Juliana nunca se interessara por mulheres, mas a chegada de Andrea na escola a fizera piscar duas vezes com a boca seca. Estudava ali desde o jardim, e jogava vôlei desde o Fundamental. Quando seu corpo espichou na adolescência, não saíra mais do time, e representava o Colégio em competições externas. Um professor já lhe dissera que assim que terminasse o terceiro ano ia levá-la para peneira em grandes clubes. Então, aquele ano que começara com o sonho jogar com a camisa do Rexona, agora se resumia aos lábios de Andrea, a aluna nova que não dava bola pra ninguém, e com quem logo se entendera. Bem demais.

Juliana não era gostosa para os padrões juvenis, mas sua altura e beleza chamavam a atenção. O primeiro beijo tinha sido na escola mesmo, em uma festa junina – ainda no nono ano – com um menino de sua sala. Sua mãe era rígida, e sua rotina de namoro ficava restrita à escola, sempre com rapazes. Até agora. “Sapatão!” – desta vez foi a voz do pai, advogado, católico e vascaíno.

– Você trouxe desodorante ou vai usar o meu de novo? – Andrea agora estava de frente, virada para ela. A pele de chocolate, as auréolas escuras e grandes em seios fartos, tão diferentes dos seus… Os cabelos encaracolados da colega desciam pelos ombros, e o olhar de Juliana parou nos pelos que desciam de seu umbigo até a fronteira da calcinha. – Que foi, menina?

– Não, nada… Eu aceito sim, esqueci o meu de novo. – Mentira, gostava de sentir em suas axilas o cheiro quente de Andrea e imaginar-se afundando o nariz em seu pescoço. Um arrepio pela nuca, e a confusão na cabeça.

Juliana se adiantou para pegar o desodorante, e suas mãos se tocaram. O vestiário quase vazio, todas as meninas já estavam no chuveiro. Seus olhares se encontraram, e ela viu os lábios de Andrea se separarem levemente em um sorriso úmido.

“SAPATÃO!” – todas as vozes gritaram de uma vez em sua cabeça quando sua boca tocou a da amiga. Não se importava. Naquele momento só queria o amor macio de Andrea, e isso valia mais do que um match point pelo Rexona.

Damiana Duarte
Damiana Duartehttp://damianaduarte.blogspot.com.br/
Damiana Duarte é escritora e poetisa. Cresceu e sobrevive do amor que há em São Gonçalo.

“Sapatão!”

A palavra ecoava na cabeça de Juliana, às vezes na voz da mãe, outras nas vozes das amigas, e em algumas ocasiões em sua própria voz. No coração, uma mistura de confusão, surpresa e deleite.

– Bom jogo hoje, Ju. – A voz de Andrea parecia conhecer exatamente o tom e a frequência para dissipar suas inseguranças. – Linda aquela bola de segunda.

“Linda é você”, pensou Juliana. No vestiário, o time de vôlei do Ensino Médio do Colégio Santa Terezinha se trocava depois do jogo. Amônia, suor e desodorante adolescente. E as costas esguias de Andrea, que mexia no armário já sem o top. “Sapatão!”, ecoou novamente.

Juliana nunca se interessara por mulheres, mas a chegada de Andrea na escola a fizera piscar duas vezes com a boca seca. Estudava ali desde o jardim, e jogava vôlei desde o Fundamental. Quando seu corpo espichou na adolescência, não saíra mais do time, e representava o Colégio em competições externas. Um professor já lhe dissera que assim que terminasse o terceiro ano ia levá-la para peneira em grandes clubes. Então, aquele ano que começara com o sonho jogar com a camisa do Rexona, agora se resumia aos lábios de Andrea, a aluna nova que não dava bola pra ninguém, e com quem logo se entendera. Bem demais.

Juliana não era gostosa para os padrões juvenis, mas sua altura e beleza chamavam a atenção. O primeiro beijo tinha sido na escola mesmo, em uma festa junina – ainda no nono ano – com um menino de sua sala. Sua mãe era rígida, e sua rotina de namoro ficava restrita à escola, sempre com rapazes. Até agora. “Sapatão!” – desta vez foi a voz do pai, advogado, católico e vascaíno.

– Você trouxe desodorante ou vai usar o meu de novo? – Andrea agora estava de frente, virada para ela. A pele de chocolate, as auréolas escuras e grandes em seios fartos, tão diferentes dos seus… Os cabelos encaracolados da colega desciam pelos ombros, e o olhar de Juliana parou nos pelos que desciam de seu umbigo até a fronteira da calcinha. – Que foi, menina?

– Não, nada… Eu aceito sim, esqueci o meu de novo. – Mentira, gostava de sentir em suas axilas o cheiro quente de Andrea e imaginar-se afundando o nariz em seu pescoço. Um arrepio pela nuca, e a confusão na cabeça.

Juliana se adiantou para pegar o desodorante, e suas mãos se tocaram. O vestiário quase vazio, todas as meninas já estavam no chuveiro. Seus olhares se encontraram, e ela viu os lábios de Andrea se separarem levemente em um sorriso úmido.

“SAPATÃO!” – todas as vozes gritaram de uma vez em sua cabeça quando sua boca tocou a da amiga. Não se importava. Naquele momento só queria o amor macio de Andrea, e isso valia mais do que um match point pelo Rexona.

Damiana Duarte
Damiana Duartehttp://damianaduarte.blogspot.com.br/
Damiana Duarte é escritora e poetisa. Cresceu e sobrevive do amor que há em São Gonçalo.

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