MENU

O jogo dos moleques da favela superou a final do Mundial

O jogo dos moleques da favela superou a final do Mundial

Sábado de manhã, vi uma partida de futebol no campo da favela Central, no bairro Raul Veiga, em São Gonçalo. Estava pedalando com meu filho pelo bairro e paramos pra ver a partida. Não me arrependi. O jogo foi 3 x 2 de virada, emocionante, pura superação. À tarde um Grêmio dominado pelo Real Madrid perdeu o Mundial de Clubes pelo magro placar de 1 x 0.

O Zayed Sports City Stadium, em Abu Dhabi, onde o Grêmio jogou, é um moderníssimo centro de treinamento e práticas esportivas de várias modalidades. A grama é de alta qualidade. O Campo Central é esburacado. Uma pequena parte dele é gramada. A bola não rola, quica, o que torna seu domínio difícil e exige mais técnica do que mostraram os jogadores do Real Madrid. Com todas as dificuldades, teve lençol, ovinho e drible da vaca, mas também um gol contra grotesco.

No campinho da favela, o talento reina

Outras coisas chamam a atenção em uma partida de futebol dentro de uma favela gonçalense. Havia talento, claro. A presença de negros é esmagadora. Tinha só um garoto branco em campo. Nas partidas dentro dos condomínios fechados dos bairros nobres do Rio de Janeiro a situação se inverte. Pobreza tem cor no Brasil.

O uniforme dos times não estava completo. Alguns jogadores usavam o próprio short ou a própria camisa. Força de vontade e motivação tinham de sobra, correndo sob o sol forte de quase verão. O sonho do moleque gonçalense é ser jogador de futebol profissional, como o fenômeno mais recente nascido na cidade, Vinicius Jr., por isso o esforço.

Dois moleques de no máximo oito anos, descalços e sem camisa, se revezavam vendo a partida. Enquanto um assistia, o outro ficava sentado em um sofá velho e rasgado largado no lixão atrás do gol. Ao lado do lixão da comunidade tem um estacionamento e eles arranjavam uns trocados tomando conta dos veículos. Sonham em brilhar como Vinicius Jr., na realidade, tão jovens, trabalham como flanelinhas.

Não é fácil pra ninguém, rico ou pobre, ser estrela do futebol. Mas o rico, pelo menos, não fica desamparado. Embora o sucesso seja quase impossível, há escolinhas de futebol espalhadas por São Gonçalo que fazem um trabalho social incrível, disciplinador, construtivo. Nelas os moleques aprendem a acordar cedo e lutar pela vida, pena que sejam financiadas e exploradas por políticos corruptos.

Cristiano Ronaldo fez o único gol da final do Mundial, de falta. Também teve gol de falta na Favela da Central. O time de camisa verde ganhou do time de camisa preta (desculpe por não saber o nome deles, não tinha placar, nem torcida gritando).

“Moleque” é uma expressão de origem africana usada há séculos no Brasil como referência aos meninos negros escravizados. Desde o período colonial eles batem um bolão se esforçando pra superar o preconceito e a marginalização social.

Mário Lima Jr.
Mário Lima Jr.http://mariolimajr.com
Moro em São Gonçalo e toda semana escrevo sobre minha relação com a cidade.

Sábado de manhã, vi uma partida de futebol no campo da favela Central, no bairro Raul Veiga, em São Gonçalo. Estava pedalando com meu filho pelo bairro e paramos pra ver a partida. Não me arrependi. O jogo foi 3 x 2 de virada, emocionante, pura superação. À tarde um Grêmio dominado pelo Real Madrid perdeu o Mundial de Clubes pelo magro placar de 1 x 0.

O Zayed Sports City Stadium, em Abu Dhabi, onde o Grêmio jogou, é um moderníssimo centro de treinamento e práticas esportivas de várias modalidades. A grama é de alta qualidade. O Campo Central é esburacado. Uma pequena parte dele é gramada. A bola não rola, quica, o que torna seu domínio difícil e exige mais técnica do que mostraram os jogadores do Real Madrid. Com todas as dificuldades, teve lençol, ovinho e drible da vaca, mas também um gol contra grotesco.

No campinho da favela, o talento reina

Outras coisas chamam a atenção em uma partida de futebol dentro de uma favela gonçalense. Havia talento, claro. A presença de negros é esmagadora. Tinha só um garoto branco em campo. Nas partidas dentro dos condomínios fechados dos bairros nobres do Rio de Janeiro a situação se inverte. Pobreza tem cor no Brasil.

O uniforme dos times não estava completo. Alguns jogadores usavam o próprio short ou a própria camisa. Força de vontade e motivação tinham de sobra, correndo sob o sol forte de quase verão. O sonho do moleque gonçalense é ser jogador de futebol profissional, como o fenômeno mais recente nascido na cidade, Vinicius Jr., por isso o esforço.

Dois moleques de no máximo oito anos, descalços e sem camisa, se revezavam vendo a partida. Enquanto um assistia, o outro ficava sentado em um sofá velho e rasgado largado no lixão atrás do gol. Ao lado do lixão da comunidade tem um estacionamento e eles arranjavam uns trocados tomando conta dos veículos. Sonham em brilhar como Vinicius Jr., na realidade, tão jovens, trabalham como flanelinhas.

Não é fácil pra ninguém, rico ou pobre, ser estrela do futebol. Mas o rico, pelo menos, não fica desamparado. Embora o sucesso seja quase impossível, há escolinhas de futebol espalhadas por São Gonçalo que fazem um trabalho social incrível, disciplinador, construtivo. Nelas os moleques aprendem a acordar cedo e lutar pela vida, pena que sejam financiadas e exploradas por políticos corruptos.

Cristiano Ronaldo fez o único gol da final do Mundial, de falta. Também teve gol de falta na Favela da Central. O time de camisa verde ganhou do time de camisa preta (desculpe por não saber o nome deles, não tinha placar, nem torcida gritando).

“Moleque” é uma expressão de origem africana usada há séculos no Brasil como referência aos meninos negros escravizados. Desde o período colonial eles batem um bolão se esforçando pra superar o preconceito e a marginalização social.

Mário Lima Jr.
Mário Lima Jr.http://mariolimajr.com
Moro em São Gonçalo e toda semana escrevo sobre minha relação com a cidade.

RESPONDA AO COMENTÁRIO

Escreva seu comentário aqui.
Por favor, insira seu nome aqui.

RESPONDA AO COMENTÁRIO

Escreva seu comentário aqui.
Por favor, insira seu nome aqui.