O povo de São Gonçalo insiste em culpar a si mesmo pela omissão do poder público diante dos problemas da cidade. Grande engano. Uma vez eleito, cabe ao político honrar o cargo a ele confiado, não importa se exercia anteriormente a profissão de camelô ou miliciano.
“Nós elegemos o prefeito e esses vereadores, por isso merecemos sua má gestão”, dizem os gonçalenses mais esclarecidos nas redes sociais. É óbvio que devemos escolher com cautela nossos representantes, mas eles têm a obrigação de governar bem, para todos. Se o melhor candidato não foi eleito, erramos na escolha, não podemos aguardar as próximas eleições. Temos o direito de exigir respeito, em uníssono, hoje.
O mau hábito impede que boas soluções sejam discutidas, ao encontrar equivocadamente sempre o mesmo culpado, o povo. A maioria pode estar enganada quando vota, mas não é culpada pelo abandono de áreas fundamentais como Saúde, Educação e Cultura, pela mistura insana de comércio ilegal e trânsito caótico e pelas pilhas de sacolas de lixo que comerciantes depositam nas esquinas.
Alguns colocam a culpa no povo como se não fizessem parte dele. Presume-se que sabem escolher bons candidatos, por isso, enquanto cidadãos, têm o dever de esclarecer “o povo que vota mal”, amigos, parentes e vizinhos. Mas geralmente têm preguiça de levantar a voz, não reservam tempo para viver em comunidade, partilhar ideias e pensamentos.
Culpar o povo é fatalmente desistir. Cidadão de bem não desiste de fazer o certo. “O povo” pode ser orientado, mas o primeiro a bater na sua porta é o candidato ignorante prometendo emprego na Prefeitura ou asfaltar a rua.
O gonçalense ainda tem muito a desenvolver, estudar e aprender. Estamos longe de qualquer coesão política ou ideológica. Mas arrisco dizer que o povo está pronto para construir uma cidade melhor. Há entre nós milhares de pessoas com acesso a informação, capazes de disseminá-la e promover debates (com um pouco de boa vontade). Não haverá momento melhor. Culpar a si mesmo ou dizer que São Gonçalo “é um lixo” não resolve nada.