O primeiro turno das eleições para prefeito de São Gonçalo foi frio. Como esperado, o pior – pelo menos para a democracia – aconteceu: uma enxurrada de votos brancos, nulos e gente que nem apareceu. Só de abstenções foram 148.863 pessoas que nem apareceram nas urnas. Uns 21% do todo. Já de brancos e nulos, o total chegou a 132.385 votos. Ou seja, 19% da população registrada para votar disse que nada daquilo que foi apresentado a representa. Em números gerais, 40% dos eleitores não sentem confiança nesse jogo.
Eleitoralmente, é ótimo para os políticos. Afinal, são menos votos válidos para disputar. O coeficiente dos vereadores vai no pé, precisando de menos votos para se eleger. Já no exercício do mandato, como sabemos, a dor de cabeça é uma consequência.
Quatro anos de diferença entre 2 realidades completamente diferentes
No caso dos prefeitos, uma difícil situação está se formando para quem for governar. E a explicação para isso é simples. No 1º turno em 2012, Adolfo Konder foi o mais votado com 192.727 votos. Somados, José Luiz Nanci e Dejorge Patrício conseguiram apenas 164.800 sufrágios. Ou seja, o candidato mais bem colocado na 1º etapa há 4 anos atrás teve quase 15% a mais de votos.
Isso demonstra mais que falta de consenso. Mostra a falta de conhecimento dos candidatos apresentados à população. Sem falar no desprezo e descrença no processo eleitoral. O resultado disso? Bem, busque por “junho 2013” no Google.
Se em 2008, Aparecida Panisset foi eleita em primeiro turno, no melhor estilo “tudo nosso”, em 2012 foi a 132ª zona eleitoral que fez a diferença. A região que abrange Guaxindiba, Jardim Catarina, Laranjal, Marambaia, Monjolos, Santa Luzia e Vista Alegre foi a que elegeu Neilton Mulim no 2º turno.
Em 2016, não só a 132ª queria eleger Mulim, como também as zonas eleitorais 133ª e 134ª votaram para sua reeleição. Entretanto, elas não garantiram a ida dele ao segundo turno. Essa região corresponde aos bairros de Amendoeira, Laranjal, Pacheco, Santa Isabel e Sacramento (133); e Alcântara, Miriambi, Vila Três, Lagoinha, Colubandê e Raul Veiga (134), representadas em verde no mapa. Como sabemos, foi onde o maior número de bem-feitorias do governo dele se concentrou. Sinal de que as obras de última hora surtiram algum efeito nos 23%, em média, daqueles que acreditaram em suas propostas de “continuísmo”.
Disputa entre Nanci e Dejorge
Entre os dois candidatos que foram à segunda etapa, a disputa foi setorizada. José Luiz Nanci e Dejorge Patrício não disputaram a “mesma cidade”. Sendo mais claro, aquela diferença citada por nós e por todos que conhecem a realidade da cidade se fez presente. “Alcântara” votou Dejorge + Mulim. Enquanto “São Gonçalo” votou Nanci.
Mas vale destacar que essa afirmação é uma “meia-verdade”. Quando olhamos duas zonas específicas, algo muda. A 36ª (Boaçu, Brasilândia, Mutuá e Porto do Rosa) votou maciçamente em Dejorge, que é originário dali. Ele teve 43% dos sufrágios, deixando Nanci em segundo, com 16,9%. Na 136ª (Centro, Estrela do Norte, Itaoca, Mutuá, Mutuapira, Nova Cidade, Porto do Rosa e São Miguel) a ordem foi a mesma, mas com uma diferença menor, 27% a 18%, muito provavelmente pela diferença entre os bairros desse mesmo setor.
Sobre os outros candidatos
Com uma disputa tão acirrada em todas as colocações, é importante também ressaltar a participação dos outros candidatos no pleito 2016.
Brizola Neto ficou em 4º lugar. Sua campanha foi bem-sucedida na zona 137, ficando em segundo lugar em Itaúna, Luiz Caçador, Mutondo, Nova Cidade e Trindade. A presença de Aparecida Panisset fez toda a diferença, mostrando que a força política da dama de vermelho ainda é forte na cidade. Aliás, vale destacar que nas ruas, ainda hoje, é difícil ver uma pessoa política com presença tão forte quanto de Panisset. Ela está longe de ser o que já foi na cidade. Mas ainda pesa na balança política.
Marlos Costa também mostrou a força política construída ao longo dos últimos 8 anos no legislativo gonçalense. Na sua região de origem, Alcântara (zona 134), ele foi o 3º mais votado, após Nanci e Dejorge. A campanha de Marlos, mesmo com poucos recursos, teve um bom resultado, deixando-o em 5º lugar e o credenciando a pensar numa cadeira no legislativo estadual daqui a 2 anos.
Diego São Paio foi o sinal de criatividade e inovação de São Gonçalo nessa campanha. Ao fazer seu estúdio com transmissão pelo Facebook, ganhou relevância, saindo do total desconhecimento do eleitor, inspirando outras campanhas. Mesmo com a maturidade das propostas, o candidato não era um grande conhecido do público, uma vez que o gonçalense médio desconhece boa parte da câmara municipal. É um nome a ser observado nas próximas eleições. Ficou em 6º lugar.
Dilson Drumond ficou em 7º lugar. Político experiente, muito habilidoso e conhecido na cidade, em alguns momentos parecia que sua campanha emplacaria, arrancando o 2º lugar. Entretanto, olhando de forma mais pragmática, a campanha de Dilson foi estratégica. O objetivo era levar os candidatos do PSDB à câmara. E tiveram sucesso com isso, elegendo Sandro Almeida como um dos vereadores mais votados.
Professor Josemar tem uma candidatura que acaba sendo caracterizada como ideológica. Isso não é uma verdade completa pois, boa parte de suas propostas são válidas e reais. Talvez pudessem ser absorvidas e replicadas tranquilamente por outros candidatos, independente se serem “esquerda” ou “direita”. Ele é suplente de deputado estadual pelo PSOL, e por alguns poucos votos, quase entrou na Alerj nas eleições 2014. Ficou em 8º lugar.
Dayse Oliveira também teve uma candidatura partidária, daquelas são úteis para que o partido se faça presente. Nos debates que a vimos, ficou claro o quanto é necessário que todos os candidatos sejam chamados a conversar, pois as diferenças ideológicas às vezes sublimam pontos de vista que podem ser melhor compreendidos fora das eleições. Ficou em 9º lugar.
Apoios e futuro da cidade
Depois que as urnas foram abertas, o tradicional “apoio” no 2º turno se consolidou. Se você deseja saber quem está apoiando quem, sugiro ir ao blog A Política do RJ, do Claudionei Abreu.
Sobre o futuro da cidade, tudo ainda é uma incógnita. Após os governos de Aparecida Panisset, parece que os políticos, especialmente aqueles fechadinhos na bolha gonçalense, passaram a acreditar que seus governos serão sucesso sempre. Basta “querer”.
Mesmo com a incompetência administrativa vista de 2005 a 2012, o governo Panisset quase elegeu seu sucessor. É preciso explicar que o resultado desse pseudo sucesso foi fruto do momento econômico especial que vivíamos, um dos maiores na história recente do Brasil. São Gonçalo, logicamente, foi junto.
Esse crescimento econômico foi o mesmo que trouxe o Comperj; que trouxe a ponte do Comperj (que possibilitou a estruturação do tráfico no Salgueiro); que trouxe o treinamento e armamento do crime fugido do Rio por conta das UPPs; e que trouxe, também, dinheiro para os gonçalenses de maior poder aquisitivo, fazendo-os migrar para outras cidades. Resumindo, uma década perdida.
Por isso, independente de qual candidato você for um fervoroso torcedor, um conselho: pressione o eleito para fazer uma gestão profissional. Bons profissionais sabem fazer muito com pouco. Se isso não se concretizar, prepare sua voz e seus dedos para ficar mais 4 anos sofrendo e indignados, como já estamos.
Fontes:
Jornal O Globo. http://infograficos.oglobo.globo.com/brasil/a-votacao-em-sao-goncalo-por-zona-eleitoral.html
DIVULGA TRE. http://divulga.tse.jus.br
Excelente análise, acho que como positivo nessa eleição foi somente o surgimento de novas forças políticas na cidade do Marlos e do Diego, fora disso nada mudou!
Obrigado, Ronaldo. E é verdade, é meio por aí mesmo.
Mas, sigamos. Afinal, melhorar é preciso. 😉
Parabéns Matheus.
Pensei q jamais veria tanta qualidade e seriedade em uma notícia a respeito de política em São Gonçalo. Parabéns pelo seu trabalho! Tenho esperança que encontraremos mais e mais pessoas daqui que tem visão e quer mudar nossa cidade. Mais uma vez, Parabéns!
[…] As eleições legislativas em São Gonçalo não são feitas pensando num cenário macro. As propostas não incluem fiscalização das ações do Executivo, corte de despesas, revisão nos gastos com pessoal, nem mudanças na organização administrativa na cidade. Em sua maioria, elas são: asfalto, retirada de entulhos e pequenos reparos dentro dos bairros de origem do candidato. Mais parece uma eleição para ‘síndico’ do bairro que para um cargo que tem, como uma das principais funções, fiscalizar os atos do prefeito, do poder Executivo. […]