Há algum tempo, venho pensando em como as lideranças locais são importantes. Mudamos bastante nos últimos tempos. Entretanto, algumas dessas características construídas em tempos passados foram em mãos de pessoas como o Padre Luiz Gusmão.
Dois dias antes de completar 92 anos, Padre Luiz, como o chamávamos, deixou a Terra, finalizando seu plano por aqui. A história do sacerdote com São Gonçalo tem início em outubro de 1972, quando assumiu a direção da Igreja Nossa Senhora de Aparecida, por onde ficou durante 3 décadas, acompanhando todas as mudanças de uma cidade bem diferente da que temos hoje.
Com família de origem católica, fui batizado em 1985, fiz a primeira comunhão em 1994, participei do ECRIC (Encontro de Crianças com Cristo), EAC (Encontro de Adolescentes com Cristo), EJC (Encontro de Jovens com Cristo) e, em todas essas situações, lá estava o Padre Luiz. Certamente, se você tem mais de 25 anos e teve contato com a “igreja do Patronato”, deve se recordar do pároco durante sua longa permanência por lá.
A diferença entre as lideranças de hoje e do passado
Sem internet, a assimetria de informação na população brasileira era ainda mais gritante que temos hoje. Entretanto, talvez por conta de uma exigência maior, as lideranças formadas no passado tinham uma formação mais sólida.
Se você observar bem, verá que muitos no passado buscavam as instituições militares e religiosas para estudar e ter acesso à informação. Ambos os lugares eram referência em educação. Até hoje, ainda é possível ver algumas escolas católicas e militares se destacando no ensino.
Padre Luiz é fruto dessa seara. Para se tornar sacerdote, estudou mais de 8 anos para se graduar. Antes de vir para São Gonçalo, foi professor de Português e Literatura em Portugal, trabalhou em uma igreja de Liverpool, numa Ingleterra ainda se recuperando do pós-Guerra, até ser enviado para Ghana, uma nação recém-independente do Reino Unido, na costa oeste da África. No país, foi missionário e diretor de diversas igrejas e escolas no sertão. Ainda passou uma temporada em Boston, nos Estados Unidos, dirigindo paróquias no país norte-americano.
Com toda essa bagagem, falando outros idiomas e tendo uma visão de mundo ímpar, chegou ao Patronato com 47 anos. A partir dali, talvez nem imaginasse que permaneceria na comunidade durante tanto tempo.
Pela dinâmica de hoje, com novas possibilidades e informação mais acessível, os horizontes para quem deseja ser missionário, trabalhar com educação ou simplesmente estudar, passam por caminhos mais distantes da trilha missionária desenhada pela Igreja Católica.
Ainda sim, é curioso ver que foi através desse processo que diversos homens e mulheres, após anos de estudo e experiências densas, foram lançados ao contato com pessoas de diversos tipos, especialmente as mais humildes, fazendo com que padres cultos chegassem a lugares como naquela igrejinha do Patronato dos anos 70.
Depois de 92 anos de vida, esperamos que sua partida tenha sido em paz. Vai-se o homem e fica o exemplo de que nossos anos de estudo precisam ser revertidos sempre para os que mais precisam. Seja em ajuda material, psicológica ou espiritual.
Padre Luiz e o título de cidadão fluminense
Boa parte das referências que achei de sua vida, estão no texto a seguir. Ele foi retirado do Projeto de Resolução Nº 998/97, que concedeu o título de CIDADÃO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO AO PADRE LUIZ GUSMÃO. O autor do projeto foi o ex-deputado e também ex-prefeito de São Gonçalo, Haírson Monteiro.
O texto é de 1997. Confira a história completa:
Nascido em Caxambu, Minas Gerais, em 30 de setembro de 1925, Luiz Gusmão iniciou sua preparação para o sacerdócio no Seminário Menor de Campanha, também no vizinho Estado, em 1944. Quatro anos depois chegava ele ao Seminário do Verbo Divino, em São Paulo, Capital, onde viria a ser ordenado sacerdote da Igreja Católica Apostólica Romana em 19 de março de 1953, dia de São José.
Naquele mesmo ano, Padre Luiz Gusmão era nomeado para lecionar Português e Literatura em Guimarães, Portugal, sendo transferido dois anos depois para lecionar diversas matérias no Seminário Menor de Fátima. Em 1957, era ele designado para estudar e trabalhar em uma Paróquia de Liverpool, na Inglaterra, de onde saiu para Ghana, na África Ocidental, em 1959, ali trabalhando como missionário e diretor de 45 escolas elementares, além de ser responsável por 35 igrejas e capelas de várias cidades e aldeias do sertão. Em 1965, já estava o Padre Luiz em Boston, nos Estados Unidos, para dirigir uma de suas Paróquias e, em 1967, regressava a Ghana para dar continuidade ao trabalho ali iniciado.
Foi em 1972 que Padre Luiz retornou ao Brasil, sendo designado para assumir, em outubro daquele ano, a Paróquia de Nossa Senhora Aparecida, no bairro de Patronato, em São Gonçalo, onde tem realizado obras relevantes, das quais se destacam a construção da nova igreja dedicada à padroeira do Brasil (que duraram de 1983 à 1986) e a restauração da Igreja da Sagrada Família, no bairro de Mangueira.
Incentivador das pastorais e dos movimentos da Igreja Católica, Padre Luiz, já realizou em sua Paróquia 41 Encontros de Casais com Cristo, 25 Encontros de Adolescentes com Cristo, 15 Encontros de Jovens Cristo e 4 Encontros de Crianças com Cristo, além de dedicar-se ao socorro aos carentes, fornecendo-lhes alimentos, roupas e medicamentos, graças à intensa colaboração dos paroquianos que têm a felicidade de tê-lo como seu orientador espiritual.
Por todas estas qualidades, merece o Padre Luiz Gusmão, mineiro de nascimento, cidadão do mundo e fluminense de coração, que lhe seja outorgado o Título de Cidadania do Estado do Rio de Janeiro, o que certamente fará esta Assembléia Legislativa ao aprovar o Projeto de Resolução ora oferecido à consideração dos ilustres Deputados Estaduais.”
É amigo somos crias do Padre Luís, e eu fico mto feliz de ter conhecido ele…um homem de mta sensibilidade e amor.
🙂
Certa vez, ele comentou que o mapa da nossa paróquia, ficou muito pequeno, porque, de um lado da rua, havia muito comércio e do outro lado , colégios, terrenos vazios e o morro do Patronato, que na época quase não era habitado. E a parte que pertencia à paróquia era da linha do trem para o lado da Igreja. Foi, então, que, sabiamente, resolveu trazer os Movimentos para a Paróquia; ECC, EAC, EJC e, bem mais tarde , o ECRIC. Fazendo com que a nossa Paróquia passasse a ter o grande movimento que passou a ter. Surgiram várias Pastorais, às quais ele dava todo apoio, participando das reuniões e sempre procurando incentivá-las. Este era o nosso GRANDE E SÁBIO PADRE!!!
Agradecemos o comentário, Seraphina!
É sempre bom ter depoimentos de quem esteve próximo dele, para confirmar tudo o que relatamos por aqui. Ficará, certamente, na história da cidade.
Obrigado por estar com a gente aqui no SIM São Gonçalo. 🙂
Graças ao Padre Luiz Gusmão sou Chamado de Gustavo. Convivi com este grande homem, e servo de Deus durante toda a sua vida, sempre amparado nos momentos de glória e de dificuldades. Sou eternamente grato pelos anos de convivência e aprendizado. Ele era parte da nossa família. Foi com grande prazer que participei do EAC como membro da banda, diretor geral e ordem e limpeza. Grande Congregado. Salve Maria! Com orgulho vejo uma foto minha nesta matéria, foto está que me trouxe até aqui.
Padre Luiz casou a minha mãe, em 83, e fez a minha primeira comunhão e a da minha irmã, em 99. Nós não sabíamos que ele era tudo isso que está escrito aqui. A gente gostava bastante dele e até relembramos uns casos engraçados sobre ele durante nossos tempos de Nossa Senhora Aparecida. Uma grande perda!