Sete pessoas foram mortas na favela do Salgueiro, em São Gonçalo (RJ), durante uma operação clandestina do Exército e da Polícia Civil dia 11 de novembro. Mortes que nenhuma das instituições reconheceu até hoje, algo inédito no Rio de Janeiro, como afirmou o sociólogo Ignácio Cano, do Laboratório de Análise da Violência da Uerj (UOL). Mortes que formam, portanto, uma chacina cruel e vergonhosa contra a segunda maior população do Estado.
Como se a vida dos gonçalenses não valesse nada, soldados do Exército e agentes da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core) da Polícia Civil se esconderam à noite na mata, encapuzados, para cometer os assassinatos no horário de um baile funk na comunidade. Bandido ou não, nenhum gonçalense ou cidadão brasileiro pode ser ferido ou morto e empilhado no Instituto Médico Legal sem explicações, por isso o Ministério Público abriu uma investigação criminal.
Um jovem de 19 anos, padeiro, é um dos quatro sobreviventes. Em entrevista exclusiva ao Jornal Extra, ele contou que depois de ser baleado nas duas mãos, os atiradores saíram do matagal tiraram uma foto sua e roubaram o seu celular. Nenhum agente socorreu o jovem nem seu amigo, que viajava na garupa da moto e foi atingido na boca, e eles sangraram no local por 3 horas. Esse é o valor que o Exército e a Core atribuem aos gonçalenses.
Ainda mais grave é a chacina contar com a aprovação de muitos moradores da cidade, gente que pode estar entre os mortos e feridos na próxima operação ilegal e defende que bandido bom é bandido morto. Sinal de pouca fé em si mesmo, quando mais do que nunca, diante da violência generalizada, precisamos ser exigentes.
Mesmo se todos os mortos e feridos fossem bandidos, uma sociedade sadia, onde os índices de criminalidade são reduzidos, não é aquela em que o crime se desenvolve e depois extermina os criminosos. Em uma sociedade digna as condições para a prática criminosa são reduzidas pelo esforço comum da Justiça, do desenvolvimento social e da eficiência policial, que compõem a segurança pública.
A vida humana merece respeito profundo e veneração absoluta, seja no Salgueiro ou na Suécia. São Gonçalo não ficou mais segura depois da chacina do dia 11, ficou mais violenta. Informações enviadas pelos leitores do jornal O São Gonçalo indicam que 33% dos bairros do município têm ruas interditadas por barricadas feitas por traficantes de drogas. Barricadas que aprisionam cerca de 400 mil gonçalenses, humilhados por criminosos dentro e fora das forças do Estado.