Estive naquilo que a Prefeitura de São Gonçalo chama de teatro municipal para assistir a peça “Dentro de mim, a cidade”, montada pelo Coletivo Mundé. Vi que o Teatro Carequinha não está à altura de George Savalla Gomes, nem chega aos pés da qualidade artística gonçalense, cuja manifestação, felizmente, superou todos os problemas de infraestrutura.
Os problemas encontrados no Carequinha, sexta-feira (09/10), foram fios elétricos espalhados perigosamente pelo chão, na frente do palco, bancos medíocres, ar-condicionado inoperante e apenas um ventilador de teto funcionando. É ultrajante uma das principais cidades do Brasil, em diversos períodos da História, depender de um auditório escolar improvisado, onde o artista tem que se virar, vender ingressos na bilheteria, pedir equipamento emprestado, atuar na sonoplastia e dividir seu esforço com atividades secundárias para apresentar seu trabalho.
Trabalho que é um verdadeiro serviço à beleza e cidadania. “Dentro de mim, a cidade” ensina sobre São Gonçalo, em aproximadamente 60 minutos, mais do que todas as ações culturais implementadas desde o início do governo Mulim, há quase 3 anos atrás. O público presente, pequeno, foi privilegiado. Creio que todos se emocionaram quando o ator Reinaldo Dutra expôs no monólogo a dor de testemunhar uma cidade acolhedora, feliz, abandonar hábitos como o bate-papo noturno na esquina entre amigos, devido ao aumento da violência urbana.
Poucos assistiram a peça porque novamente a Prefeitura se manteve distante da legítima arte municipal. Ela pendura placas descontroladamente sobre coisas que não faz, sobre reformas de praças sem previsão de começar, mas não pendurou nenhuma plaquinha sobre o evento. Mulim, a Fundação de Artes, a Prefeitura, ninguém publicou sequer um post em seus perfis nas redes sociais, divulgação que não custaria nada.
Uma peça de teatro produzida com carinho por gonçalenses, para gonçalenses, sobre São Gonçalo, a um preço acessível, agrega um valor inestimável à vida, para sempre. O Coletivo Mundé é um daqueles tesouros raros, são tantos talentos reunidos que as demais possibilidades de boas combinações se esgotam. Cada cidade do mundo tem no máximo um grupo assim, seja um polo criativo como Berlim, ou uma cidade pouco desenvolvida como a nossa, que nem teatro tem.