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Garota de Alcântara

Garota de Alcântara

Se Tom Jobim e Vinicius de Moraes, compositores da famosíssima canção Garota de Ipanema, vivessem em São Gonçalo hoje, qual seria a inspiração desses artistas? Provavelmente a sujeira das ruas, característica mais evidente da cidade, ou a desordem urbana, outro aspecto marcante. E se os dois gênios morassem especificamente em Alcântara, bairro que agrega, como nenhum outro, as principais singularidades gonçalenses? Creio que Tom e Vinicius se sentiriam mal, sobrecarregados com tanta inspiração ao redor.

O maior obstáculo seria a falta de um bom lugar para sentar, observar, compor melodias e escrever letras de música. Apesar da profunda importância comercial para o município, não existe em Alcântara um simples banco de concreto onde alguém possa se sentar ao ar livre, desde a usurpação da praça Carlos Gianelli para a construção de um shopping.

Digamos que os compositores utilizassem seu banquinho de plástico, trazido de casa nas manhãs de sábado – enfrentando o trânsito caótico – e posicionado estrategicamente no início do Calçadão do bairro gonçalense. A intensa circulação de pessoas na região é tão desorganizada que seria quase impossível identificar a mulher mais bela e acompanhar seus passos com o olhar. Veriam principalmente uma massa de gente apressada andando de um lado para o outro, multidão formada por pessoas se empurrando, às vezes saindo da calçada e disputando espaço nas ruas com carros, ônibus e até carroças. Pelo menos, o letrista da renomada canção, Vinicius de Moraes, não sofreria a tristeza da solidão com tanta gente em volta.

Se conseguissem eleger sua musa, seria fácil comprar um presente para cortejá-la. Além das inúmeras lojas de roupa feminina, Alcântara conta com diversos camelôs vendendo, ilegal e livremente, desde arroz e feijão a relógios paraguaios. Basta escolher. Com livros, infelizmente, não poderiam presenteá-la porque nenhum comerciante ou camelô considera bom negócio vendê-los.

Vinicius e Tom veriam que no bairro as garotas não passam a caminho do mar, elas pisam na lama às margens do poluído rio Alcântara, talvez com o intuito de comprar uma calça jeans na Rua da Feira. Aqui vivendo eles seriam obrigados a habituar o olfato ao odor fétido do rio e do lixo nas esquinas e certamente não encontrariam graça, beleza ou amor.

Ipanema é bastante diferente de Alcântara, sabemos. No entanto, o único aspecto difícil de conquistar é que o último seja banhado pelo mar. Limpeza, organização, respeito e dignidade, as mesmas gozadas pelos moradores da zona sul carioca, não são construídas em São Gonçalo por falta de vergonha na cara.

Mário Lima Jr.
Mário Lima Jr.http://mariolimajr.com
Moro em São Gonçalo e toda semana escrevo sobre minha relação com a cidade.

Se Tom Jobim e Vinicius de Moraes, compositores da famosíssima canção Garota de Ipanema, vivessem em São Gonçalo hoje, qual seria a inspiração desses artistas? Provavelmente a sujeira das ruas, característica mais evidente da cidade, ou a desordem urbana, outro aspecto marcante. E se os dois gênios morassem especificamente em Alcântara, bairro que agrega, como nenhum outro, as principais singularidades gonçalenses? Creio que Tom e Vinicius se sentiriam mal, sobrecarregados com tanta inspiração ao redor.

O maior obstáculo seria a falta de um bom lugar para sentar, observar, compor melodias e escrever letras de música. Apesar da profunda importância comercial para o município, não existe em Alcântara um simples banco de concreto onde alguém possa se sentar ao ar livre, desde a usurpação da praça Carlos Gianelli para a construção de um shopping.

Digamos que os compositores utilizassem seu banquinho de plástico, trazido de casa nas manhãs de sábado – enfrentando o trânsito caótico – e posicionado estrategicamente no início do Calçadão do bairro gonçalense. A intensa circulação de pessoas na região é tão desorganizada que seria quase impossível identificar a mulher mais bela e acompanhar seus passos com o olhar. Veriam principalmente uma massa de gente apressada andando de um lado para o outro, multidão formada por pessoas se empurrando, às vezes saindo da calçada e disputando espaço nas ruas com carros, ônibus e até carroças. Pelo menos, o letrista da renomada canção, Vinicius de Moraes, não sofreria a tristeza da solidão com tanta gente em volta.

Se conseguissem eleger sua musa, seria fácil comprar um presente para cortejá-la. Além das inúmeras lojas de roupa feminina, Alcântara conta com diversos camelôs vendendo, ilegal e livremente, desde arroz e feijão a relógios paraguaios. Basta escolher. Com livros, infelizmente, não poderiam presenteá-la porque nenhum comerciante ou camelô considera bom negócio vendê-los.

Vinicius e Tom veriam que no bairro as garotas não passam a caminho do mar, elas pisam na lama às margens do poluído rio Alcântara, talvez com o intuito de comprar uma calça jeans na Rua da Feira. Aqui vivendo eles seriam obrigados a habituar o olfato ao odor fétido do rio e do lixo nas esquinas e certamente não encontrariam graça, beleza ou amor.

Ipanema é bastante diferente de Alcântara, sabemos. No entanto, o único aspecto difícil de conquistar é que o último seja banhado pelo mar. Limpeza, organização, respeito e dignidade, as mesmas gozadas pelos moradores da zona sul carioca, não são construídas em São Gonçalo por falta de vergonha na cara.

Mário Lima Jr.
Mário Lima Jr.http://mariolimajr.com
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