Cada gonçalense pode conhecer a Prefeitura e descobrir como é gerido o orçamento de R$ 1,2 bilhões anuais.
Ninguém que conheça os problemas de São Gonçalo imagina que a entrada na Prefeitura é feita depois de um cadastro rápido e informatizado. Todas as formas de poluição estragam as ruas do município. Na Prefeitura, a atendente faz o cadastro do visitante com um sorriso no rosto. E o chão dos corredores da sede do Poder Executivo brilha.
Estive na Prefeitura para entregar as reclamações registradas no site ReclamaSaoGoncalo.com. Cento e oitenta pessoas participaram no mês de julho e fizeram 209 reclamações. Nada mal para um site novo, mas que contou com o apoio de inúmeros canais: Jornal Daki, Sim São Gonçalo, Rádio Aliança, São Gonçalo Urgente, Informe São Gonçalo, Memória de São Gonçalo e outros não menos importantes.
Após o cadastro na portaria, avançando alguns passos o visitante vê do lado esquerdo, penduradas na parede, as fotografias dos prefeitos da história gonçalense. Estão lá os retratos de Neilton Mulim, preso por suspeita de fraude de R$ 40 milhões na iluminação pública (G1), e de Aparecida Panisset, condenada e inelegível por desviar dinheiro público que seria aplicado em cursos profissionalizantes, atendimento psicológico e outros serviços para pessoas carentes (O Globo).
Fui direto ao setor de Iluminação Pública, um dos maiores problemas municipais, já que os recursos financeiros da área foram usados para comprar imóveis em Maricá e escondidos na churrasqueira. 72% das reclamações registradas no Reclama São Gonçalo apontaram lâmpada queimada no poste. Em segundo e terceiro lugar, buraco e lixo na rua, respectivamente.
Confesso que esperava má vontade dos servidores públicos. Não é todo dia que alguém chega com 209 reclamações nas mãos e tenta passar a “bola”. Houve desorganização, mas não má vontade.
Tinha 4 pessoas na fila de atendimento do setor. Minha vez chegou em dez minutos. Pra não assustar o atendente, apresentei a primeira reclamação: três lâmpadas queimadas na rua Aldrovando Pena, perto da esquina com a Alexandre Muniz, no bairro Vila Três. Ele anotou em uma planilha eletrônica que seria enviada para a ganhadora da licitação do serviço de iluminação. Citei mais 152 reclamações sobre o mesmo problema. O atendente não se espantou e gentilmente pediu que eu as enviasse por email. Ponto para o servidor.
Chegou a vez de entregar os 148 buracos. Fui ao Departamento de Engenharia e lá tive uma surpresa desagradável. As reclamações não são feitas na sede da Prefeitura, mas em repartições espalhadas na cidade, de acordo com o bairro do buraco. Regra absurda, a Prefeitura deveria distribuir as reclamações, não o cidadão. Gol contra da administração pública e do governo Nanci.
O bom atendimento havia acabado. Procurei o setor de Parques e Jardins para entregar 44 reclamações de galhos na fiação elétrica. Andei pra cá e pra lá e não o encontrei. Nos corredores começaram a me olhar como se eu fosse um terrorista escolhendo o melhor local para deixar uma bomba. Decidi entregar o restante das reclamações por email para a Ouvidoria, cuja missão é servir de canal de comunicação com cidadão, só que não conta com um sistema decente, por isso o ReclamaSaoGoncalo.com foi criado.
Cada gonçalense pode conhecer a Prefeitura e descobrir como é gerido o orçamento de R$ 1,2 bilhões anuais. O chão brilha, os servidores são dedicados, mas nas salas não é difícil encontrar fiação exposta e garrafão de água improvisado para receber o esgoto do ar-condicionado.