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Pra viver em São Gonçalo tem que perder alguma coisa

Pra viver em São Gonçalo tem que perder alguma coisa

Pra morar em São Gonçalo tem que perder alguma coisa material e imaterial.

Nos quarteirões sem a presença do tráfico de drogas, e também nas ruas bloqueadas por barricadas, quando o tiro não está comendo, o cidadão sai para o trabalho, vizinhos conversam na calçada e as crianças brincam. Enquanto encontra condições mínimas, a rotina continua, mas está longe da normalidade. Diariamente toda a população de São Gonçalo perde algo de valor: o número de roubos a pedestres na cidade aumentou 82% de 2015 para 2016 (O Dia).

A própria vida pode ser perdida na porta de casa. Aconteceu em abril com a escriturária Solange Gonçalves, de 53 anos, no Porto da Pedra. Desesperado ao ver Solange baleada, seu marido implorou ajuda a um policial militar (envolvido no tiroteio que matou a mulher e possível autor do disparo) e ouviu como resposta do policial que “quem socorre é o SAMU”. Antes da vida de Solange ser perdida, o Estado do Rio perdeu o respeito pelo cidadão gonçalense.

Quanto mais pobre, maior a perda. Quem tem condições financeiras e nenhum laço emocional com a cidade, se afasta dela.

A moradora das regiões dominadas pelo tráfico perde a segurança, a liberdade e o prazer de habitar o território.

O dono do bar paga impostos às três esferas de governo e paga a bandidos por proteção contra eles mesmos. O camelô paga a fiscais corruptos para vender seus produtos ilegalmente embaixo do viaduto de Alcântara. O entregador de gás é obrigado a dar um botijão ou dois por mês para circular pelo bairro que nasceu e foi criado.

A artista perde público, mas não a esperança de um dia ter algum reconhecimento por sua arte. Ela insiste na atividade que a realiza, embora não traga nenhum retorno financeiro. Com o desemprego atingindo 30% dos jovens brasileiros, a jovem estudante do município, que oferece poucas oportunidades de trabalho, perde qualquer interesse pelo futuro.

Aquele que se desloca de manhã para trabalhar em Niterói ou no Rio de Janeiro perde horas e horas da vida nos engarrafamentos que começam cada vez mais próximos de casa. Quem passa pela BR-101, a rodovia do medo, não sabe nem se chegará ao destino: os casos de violência na estrada aumentaram quase 700% (O São Gonçalo).

Pra morar em São Gonçalo tem que perder alguma coisa material e imaterial. Não é perdida definitivamente a busca pela felicidade, obrigação humana que independe do lugar onde se vive e pode ser encontrada até nas cidades destruídas da Síria.

Mário Lima Jr.
Mário Lima Jr.http://mariolimajr.com
Moro em São Gonçalo e toda semana escrevo sobre minha relação com a cidade.

Pra morar em São Gonçalo tem que perder alguma coisa material e imaterial.

Nos quarteirões sem a presença do tráfico de drogas, e também nas ruas bloqueadas por barricadas, quando o tiro não está comendo, o cidadão sai para o trabalho, vizinhos conversam na calçada e as crianças brincam. Enquanto encontra condições mínimas, a rotina continua, mas está longe da normalidade. Diariamente toda a população de São Gonçalo perde algo de valor: o número de roubos a pedestres na cidade aumentou 82% de 2015 para 2016 (O Dia).

A própria vida pode ser perdida na porta de casa. Aconteceu em abril com a escriturária Solange Gonçalves, de 53 anos, no Porto da Pedra. Desesperado ao ver Solange baleada, seu marido implorou ajuda a um policial militar (envolvido no tiroteio que matou a mulher e possível autor do disparo) e ouviu como resposta do policial que “quem socorre é o SAMU”. Antes da vida de Solange ser perdida, o Estado do Rio perdeu o respeito pelo cidadão gonçalense.

Quanto mais pobre, maior a perda. Quem tem condições financeiras e nenhum laço emocional com a cidade, se afasta dela.

A moradora das regiões dominadas pelo tráfico perde a segurança, a liberdade e o prazer de habitar o território.

O dono do bar paga impostos às três esferas de governo e paga a bandidos por proteção contra eles mesmos. O camelô paga a fiscais corruptos para vender seus produtos ilegalmente embaixo do viaduto de Alcântara. O entregador de gás é obrigado a dar um botijão ou dois por mês para circular pelo bairro que nasceu e foi criado.

A artista perde público, mas não a esperança de um dia ter algum reconhecimento por sua arte. Ela insiste na atividade que a realiza, embora não traga nenhum retorno financeiro. Com o desemprego atingindo 30% dos jovens brasileiros, a jovem estudante do município, que oferece poucas oportunidades de trabalho, perde qualquer interesse pelo futuro.

Aquele que se desloca de manhã para trabalhar em Niterói ou no Rio de Janeiro perde horas e horas da vida nos engarrafamentos que começam cada vez mais próximos de casa. Quem passa pela BR-101, a rodovia do medo, não sabe nem se chegará ao destino: os casos de violência na estrada aumentaram quase 700% (O São Gonçalo).

Pra morar em São Gonçalo tem que perder alguma coisa material e imaterial. Não é perdida definitivamente a busca pela felicidade, obrigação humana que independe do lugar onde se vive e pode ser encontrada até nas cidades destruídas da Síria.

Mário Lima Jr.
Mário Lima Jr.http://mariolimajr.com
Moro em São Gonçalo e toda semana escrevo sobre minha relação com a cidade.

2 COMENTÁRIOS

  1. Em São Gonçalo, perdemos tudo, inclusive a dignidade, o respeito dos que deveriam zelar pelo município.
    Cidade engarrafada, suja, maltrapilho. Infelizmente, sou nascido e criado na cidade, mas, peço a Deus um dia, conseguir sair deste lugar.
    Falta de tudo neste município. Segurança, infra-estrutura, transporte decente, ruas asfaltadas, segurança, coleta de lixo (há semanas o lixeiro não passa), alagamentos, etc…. Tudo de ruim São Gonçalo tem.
    Lembro da época em que o ex-prefeito Edson Ezequiel de Mattos assumiu a prefeitura, ele conseguiu até dar uma melhorada no município e daí para cá, a coisa desgringolou de uma forma, que acredito que não tem mais jeito isto aí.
    Esse prefeito atual e o seu antecessor, sequer ouvi falar em benfeitorias que ele fez para o município.
    Aquela incompetente da Aparecida Panisset, na sua gestão, foi reformar praças e só. Esteve no bairro onde moro nos meados de março, não lembro o ano, no Porto Novo, na sua primeira gestão prometendo melhoras nas ruas, asfaltamento, saneamento, etc… , a partir do dia 1º de abril (mentirosa!!) e até hoje estamos aguardando as melhorias no local.
    Graças a Deus não votei nela e nem voto em ninguém mais há muitos anos.

    • Oi, Fernando.

      Entendo o desapontamento com a cidade. Mas, infelizmente, temos que lembrar que não é uma exclusividade de São Gonçalo esse descaso com a cidade. A Baixada Fluminense e a capital sofrem do mesmo jeito. Sinto que é um problema geral do RJ.

      Veja essa semana de chuvas fortes, o que aconteceu até mesmo no Jardim Botânico, bairro onde fica a Rede Globo? Alagamentos generalizados. Os problemas não são exclusividade de São Gonçalo, mas do Brasil.

      Sigamos trabalhando para melhorar tudo isso.
      Obrigado por comentar aqui no SIM São Gonçalo.

      Até mais!

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  1. Em São Gonçalo, perdemos tudo, inclusive a dignidade, o respeito dos que deveriam zelar pelo município.
    Cidade engarrafada, suja, maltrapilho. Infelizmente, sou nascido e criado na cidade, mas, peço a Deus um dia, conseguir sair deste lugar.
    Falta de tudo neste município. Segurança, infra-estrutura, transporte decente, ruas asfaltadas, segurança, coleta de lixo (há semanas o lixeiro não passa), alagamentos, etc…. Tudo de ruim São Gonçalo tem.
    Lembro da época em que o ex-prefeito Edson Ezequiel de Mattos assumiu a prefeitura, ele conseguiu até dar uma melhorada no município e daí para cá, a coisa desgringolou de uma forma, que acredito que não tem mais jeito isto aí.
    Esse prefeito atual e o seu antecessor, sequer ouvi falar em benfeitorias que ele fez para o município.
    Aquela incompetente da Aparecida Panisset, na sua gestão, foi reformar praças e só. Esteve no bairro onde moro nos meados de março, não lembro o ano, no Porto Novo, na sua primeira gestão prometendo melhoras nas ruas, asfaltamento, saneamento, etc… , a partir do dia 1º de abril (mentirosa!!) e até hoje estamos aguardando as melhorias no local.
    Graças a Deus não votei nela e nem voto em ninguém mais há muitos anos.

    • Oi, Fernando.

      Entendo o desapontamento com a cidade. Mas, infelizmente, temos que lembrar que não é uma exclusividade de São Gonçalo esse descaso com a cidade. A Baixada Fluminense e a capital sofrem do mesmo jeito. Sinto que é um problema geral do RJ.

      Veja essa semana de chuvas fortes, o que aconteceu até mesmo no Jardim Botânico, bairro onde fica a Rede Globo? Alagamentos generalizados. Os problemas não são exclusividade de São Gonçalo, mas do Brasil.

      Sigamos trabalhando para melhorar tudo isso.
      Obrigado por comentar aqui no SIM São Gonçalo.

      Até mais!

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