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Queria saber o que Neilton pensa antes de dormir

Queria saber o que Neilton pensa antes de dormir

Imagina Neilton depois de um dia de trabalho. Ele vai tomar banho enquanto coloca seus blusões azuis e calça para lavar. É nesse momento que imagina como seu dia foi pesado e que não é hora de responder whatsapps e sms’s com cobranças de cargos e compromissos de campanha. Ele dá uns passos e lembra como foi a virada eleitoral e que para ganhar, teve que pedir apoio da Graça e do Eduardo Gordo. Mais alguns passos e deve chegar um suspiro de “ah se eu tivesse tentado sozinho, poderia ser tudo diferente”.

Nessa hora, não deve ser fácil colocar o desodorante. Deve doer quando levanta o braço pesado de tanto assinar leis, solicitações de secretários e apertos de mãos. Enquanto o Rexona bate, o cheiro deve lembrar daquele empresário bem perfumado de ônibus que deu dois tapinhas avisando que “- se reduzir as passagens, vai dar merda” e o braço, ao descer, vai dando o tempo de pensar no tão sonhado projeto de colocar as passagens à R$1,50. No primeiro estalar do cotovelo, esses sonhos vão sumindo e virando dor na coluna por conta de tantas reuniões com acordos políticos mal sucedidos.

Depois de esticar a coluna dolorida e os braços pesados, é hora de ser vestir. Aquela camisa amarrotada, distante do seu dia a dia público, vira um fardo de um combatente impotente. Talvez é com a camisa amarrotada que ele perceba que ao fim de sua gestão, será lembrado pelos compromissos que nunca realizou. Outro suspiro surge e enquanto fecha o armário, lembra dos antigos parceiros que viraram oposição ou inimigos pelos cargos que ele não deu. Não existem mais amigos, existem aliados que vão chegando e indo embora, assim como os veículos de comunicação e vereadores vão ao seu escritório esperando um doce afago prefeitável, em parcelas de DAS e Publicidade.

Ele já está no quarto com a luz acessa. Dá alguns passos até o Ar Condicionado. Liga. Depois disso, chega o primeiro vento junto da frieza do Hospital Geral, das Escolas Municipais, dos CRAS e do orçamento gelado que não dá nem para justificar as lâmpadas de natal de um milhão de reais. A cama, único lugar de conforto, vira o trono do Neilton que ninguém conhece. Ele deita, bate a cabeça no travesseiro e imagina uma São Gonçalo do seu discurso de campanha. Para cada sonho criado para sua gestão, tem um partido para quebrá-lo. Para cada desejo de política pública, tem um vereador para pedir favor. Para cada momento de ser Neilton, tem um assessor marcando uma reunião com quem não devia.

Ah, Neilton! Como queria saber o que você pensa antes de dormir. Queria poder presenciar os momentos que você não queria que Nivaldo fosse candidato, mas que é obrigado a apoiá-lo por ele ser irmão. O Neilton que sonhava com Marlos sendo Deputado Federal para te ajudar com recursos e com pressão política. Queria presenciar seu sorriso ao pensar na possibilidade de ferrar com os monopólios de ônibus e com os acordos que seu grupo havia feito. Queria ver você contando piadas para você mesmo dos pedidos absurdos dos vereadores que mal sabem o caminho dos seus gabinetes. Queria isso. Queria saber como o Neilton que foi candidato em 1996, cheio de desejos, conversa com o Neilton de 2015, cheio de frustrações.

E assim Neilton vai dormir, esperando que sua gestão seja melhor.

Romário Régis
Romário Régishttp://agenciapapagoiaba.com/
Romario Regis é diretor da agência Papagoiaba, dedicada à produção e comunicação de conteúdo que dê visibilidade para as potências socioculturais do Leste Fluminense.

Imagina Neilton depois de um dia de trabalho. Ele vai tomar banho enquanto coloca seus blusões azuis e calça para lavar. É nesse momento que imagina como seu dia foi pesado e que não é hora de responder whatsapps e sms’s com cobranças de cargos e compromissos de campanha. Ele dá uns passos e lembra como foi a virada eleitoral e que para ganhar, teve que pedir apoio da Graça e do Eduardo Gordo. Mais alguns passos e deve chegar um suspiro de “ah se eu tivesse tentado sozinho, poderia ser tudo diferente”.

Nessa hora, não deve ser fácil colocar o desodorante. Deve doer quando levanta o braço pesado de tanto assinar leis, solicitações de secretários e apertos de mãos. Enquanto o Rexona bate, o cheiro deve lembrar daquele empresário bem perfumado de ônibus que deu dois tapinhas avisando que “- se reduzir as passagens, vai dar merda” e o braço, ao descer, vai dando o tempo de pensar no tão sonhado projeto de colocar as passagens à R$1,50. No primeiro estalar do cotovelo, esses sonhos vão sumindo e virando dor na coluna por conta de tantas reuniões com acordos políticos mal sucedidos.

Depois de esticar a coluna dolorida e os braços pesados, é hora de ser vestir. Aquela camisa amarrotada, distante do seu dia a dia público, vira um fardo de um combatente impotente. Talvez é com a camisa amarrotada que ele perceba que ao fim de sua gestão, será lembrado pelos compromissos que nunca realizou. Outro suspiro surge e enquanto fecha o armário, lembra dos antigos parceiros que viraram oposição ou inimigos pelos cargos que ele não deu. Não existem mais amigos, existem aliados que vão chegando e indo embora, assim como os veículos de comunicação e vereadores vão ao seu escritório esperando um doce afago prefeitável, em parcelas de DAS e Publicidade.

Ele já está no quarto com a luz acessa. Dá alguns passos até o Ar Condicionado. Liga. Depois disso, chega o primeiro vento junto da frieza do Hospital Geral, das Escolas Municipais, dos CRAS e do orçamento gelado que não dá nem para justificar as lâmpadas de natal de um milhão de reais. A cama, único lugar de conforto, vira o trono do Neilton que ninguém conhece. Ele deita, bate a cabeça no travesseiro e imagina uma São Gonçalo do seu discurso de campanha. Para cada sonho criado para sua gestão, tem um partido para quebrá-lo. Para cada desejo de política pública, tem um vereador para pedir favor. Para cada momento de ser Neilton, tem um assessor marcando uma reunião com quem não devia.

Ah, Neilton! Como queria saber o que você pensa antes de dormir. Queria poder presenciar os momentos que você não queria que Nivaldo fosse candidato, mas que é obrigado a apoiá-lo por ele ser irmão. O Neilton que sonhava com Marlos sendo Deputado Federal para te ajudar com recursos e com pressão política. Queria presenciar seu sorriso ao pensar na possibilidade de ferrar com os monopólios de ônibus e com os acordos que seu grupo havia feito. Queria ver você contando piadas para você mesmo dos pedidos absurdos dos vereadores que mal sabem o caminho dos seus gabinetes. Queria isso. Queria saber como o Neilton que foi candidato em 1996, cheio de desejos, conversa com o Neilton de 2015, cheio de frustrações.

E assim Neilton vai dormir, esperando que sua gestão seja melhor.

Romário Régis
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Romario Regis é diretor da agência Papagoiaba, dedicada à produção e comunicação de conteúdo que dê visibilidade para as potências socioculturais do Leste Fluminense.

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