Sabemos que a educação de nosso povo é deficiente. E é uma tristeza ver que isso segrega a população brasileira em castas tão distintas. Entretanto, o nosso povo humilde, apesar da pouca instrução, merece que seus eleitos se esforcem num melhoramento educacional após chegarem ao poder. Mas não é o que acontece. Um caso claro e incômodo é o legislativo gonçalense.

Diferente da maioria do povo, que ganha apenas 1 salário mínimo para trabalhar durante 8 horas por dia (quando há emprego), sem falar do tempo perdido no péssimo transporte, nossos vereadores ganham 15 mil reais e tem bastante tempo ocioso em sessões inócuas. Sem falar naqueles que nem sempre comparecem às sessões. Apesar dessas facilidades, insistem em não aprender o básico da língua portuguesa. Resultado: as sessões da câmara são um show de horrores linguísticos, recheado de ‘pobremas’ e ‘pubricações’ para todos os lados.

Moção de aprausos pros vereador tudo

Se alguns desses vereadores (ou postulantes ao cargo) conseguissem ler este texto por completo, certamente iriam usar sua “origem popular” para justificar a quantidade de erros linguísticos e dificuldades de formular ideias concisas. Mas essa conversa é velha em 2018. Afinal, esse argumento clássico já foi usado até por por ex-presidente, que falava errado em público para se aproximar de seus eleitores, insistindo na pauta que ele era assim porque “é do povo”.

Para mim, aliás, isso é um deboche, um desrespeito com as pessoas, além de ser um preconceito achar que todas as pessoas ao serem “do povo, ou seja, pobres, falem da forma A ou B. Aliás, conheço muita gente pobre que fala melhor que 50% da Câmara de Vereadores de São Gonçalo.

Com o tempo que se tem e o dinheiro que se ganha – repetindo: são 15 mil reais mensais – é inadmissível que não se invista em uma fonoaudióloga, professora de português ou outra profissional que os ajudem a falar melhor. Se as ferramentas mais usadas no legislativo são a fala e a escrita (se é que alguns sabem escrever), porque não melhorar sua ferramenta de trabalho?

No mercado de trabalho formal, seríamos demitidos.

Certamente, as pessoas que os elegeram não se incomodariam com a melhora na pronúncia de nossa língua. Se esforçar em falar melhor não prejudica. Na verdade, só elevaria a autoestima gonçalense, tão em baixa nos últimos tempos.

Falar errado num cargo eletivo é um desrespeito com a população

Se fôssemos um município do interior brasileiro, distante das principais capitais do Brasil, até entenderíamos a falta de acesso à educação. Mas não! Somos parte da 3ª megalópole da América Latina. Ainda sim, damos espaço a isso.

Logicamente, os poucos vereadores que tem qualificação logo são apontados como futuros prefeitos ou postulantes a cargos melhores. São flores no deserto que, vez ou outra, nem ao mesmo conseguem entender o que seus colegas estão falando, dada a dificuldade destes em se expressarem.

Para estes vereadores de melhor nível, é notável a paciência que eles têm ao se manterem ali. A câmara legislativa de São Gonçalo é um purgatório para os melhores quadros da política regional.

Dentre as várias discussões que acontecem, poucas se aproximam de projetos efetivos. Nos resta pedir aos mesmos que respeitem a cidade, trabalhando também em seu próprio melhoramento fonético e intelectual. Afinal, ganhar mais que 99% da população de seu Estado não é algo trivial. Muito menos brincadeira.

3 COMENTÁRIOS

  1. Ótimas observações Matheus! Você sabe se existe alguma forma de os cidadãos acompanharem as sessões e os votos dos vereadores? Não presencialmente, porque na grande maioria não temos o tempo que os vereadores tem. Te agradeço! Continue com o bom trabalho!

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