O Brasil é e sempre foi um país desigual. Apesar dos últimos governos repetirem exaustivamente que a desigualdade financeira diminuiu entre as pessoas, o desnível absurdo ainda prevalece. É verdade que a renda caminha rumo à igualdade, mas o abismo educacional não mudou. Em São Gonçalo, por exemplo, com muitas pessoas nas chamadas “classes C e D”, camadas que mais ascenderam economicamente, a falsa sensação de “poder comprar” mascara uma pergunta bem pertinente em tempos de ostentação: ainda existe elite goncalense?
Antes de escrever o post, pedi algumas contribuições nas redes do SIM São Gonçalo. Esse comentário resume um pouco do que se acredita ser “elite”:
“Sobre a ‘elite gonçalense’, conheço uma família que tinha uma situação financeira bem bacana. Moravam no Galo Branco, numa ‘puta’ casa. A mulher andava de ‘Audi’, o homem de ‘Hilux’, o filho de ‘New Beetle’ e filha de ‘Honda Bis’, porque era bem novinha. Só que os negócios cresceram de uma maneira que se viram obrigados a mudar. Ficaram muito ‘visados’, como eles próprios relataram. Hoje, vivem em uma cobertura em Charitas, onde eles são apenas mais uma família rica e não A Família Rica.”
Olhando a palavra “elite” em alguns dicionários, cheguei a definições como “o que há de melhor na sociedade” ou “que detém alguma influência e prestígio”. Observando isso, é importante ressaltar que as “elites” são representadas em diversos segmentos. Nas artes, letras, atividades médicas, economia, entre outros campos, todos têm algum tipo de parcela considerada elite. Mas, por que o quesito dinheiro é tão relacionado à palavra?
Comentários abertos feitos na página do facebook refletem um pouco do que se sente nas ruas. Frases como “as elites estão na Barra da Tijuca ou Niterói” são frequentes. Muito disso é explicado se voltarmos um pouco no tempo. Anos atrás, o acesso ao conhecimento e a informação eram restritos a poucos que tinham algum mínimo poder econômico. Sabemos que muita coisa mudou, mas a ideia de que o “dinheiro” te introduz na “elite” continua a mesma. Para muitos, ainda bem, a deficiência financeira já não é mais a vilã. O problema faz parte do modelo mental que temos.
Esse “modelo” pode ser traduzido como “jeito de pensar”. Muitos ainda tem uma mente modelada por crenças que hoje já não fazem tanto sentido como antigamente. Ter muito dinheiro, por exemplo, já não te faz tão “especial” assim. Em São Gonçalo ou em qualquer outra cidade brasileira, ainda percebemos que “mostrar que é rico” virou um pequeno show, que pode ser “assistido” nos instagrams, youtubes e nas ruas, nos roncos das motos barulhentas ou cantando pneu por aí. Mas com tanto dinheiro no mercado, até quem tem muito já não consegue ser visto com tanto destaque, uma vez a mágica do “12x sem juros” fez com que muitos tivessem acesso a quase tudo, mesmo que parceladamente.
Mas, ainda há elite gonçalense?
Hoje, com uma realidade “um pouquinho menos desigual”, a percepção de que a “elite gonçalense” deixou de existir está mais nítida. A verdadeira elite se dá por um fato: acesso à educação. Entretanto, até mesmo as escolas que antes eram referência na cidade, perderam o posto para outras instituições de ensino que se parecem mais com “máquinas de treinamento para o vestibular”. Nessa peneira, passam os mais aptos, salvam-se os que tem uma índole curiosa e se libertam aqueles cujas famílias são suficientemente instruídas para guiá-los.
Por outro lado, as gerações mais antigas ainda acreditam em símbolos que já não fazem mais sentido quando o intuito é ser visto como elite, até mesmo intelectual. Para reforçar essa posição, os mais jovens também já não veem sentido algum em ser como eles, algo que no passado ainda era uma aspiração. Mais uma vez, o modelo mental aprisiona os mais velhos e força os mais jovens a construir novos moldes que ainda nem foram testados. O que se vê é o retrato da situação atual, onde “nunca antes na história o futuro foi tão incerto.”
Talvez a resposta para a pergunta título não exista. Talvez essa “nova elite” esteja em construção. Talvez ela nunca mais exista como se conheceu no passado. De qualquer forma, os membros das futuras elites, de quaisquer segmentos, estão por aí. Dispersos, desorganizados, mas agindo e implantando formas livres de pensar. Seja em São Gonçalo, Rio de Janeiro, Brasil ou no mundo.
Muito oportuna a sua observação, mas me parace que em São Gonçalo reina há muito tempo, e põe tempo, um verdadeiro CAOS, aquele CAOS Grego que algo não existe. Antes de ter uma forma. Bem, se algo não existe, como organizar? Bem, vejamos o trânsito, ele não existe nem desorganizado. A câmara de vereadores, existe? Como pode existir um órgão governamental que consome ate 3% da receita do município existir? Em qualquer repartição pública da prefeitura é impossível ir à frente com qualquer processo. O que de governo funciona, é por causa dos repasses federal e estadual. Bem, a população existe e ainda é o nosso maior patrimônio. E existe porque o governo não existe. Esse é o paradoxo de ser Gonçalense.
Verdade, Alexandre.
Há muito caos e desperdício de dinheiro. Concordo também que nosso governo municipal é completamente dependente das verbas estaduais e federais. Porém, temos as pessoas, o maior bem da cidade. Por isso, precisamos valorizá-las cada vez mais. 🙂
Obrigado por estar com a gente no SIM!
Abraços.