“Choooora, chora vagabundo!” Essa foi a primeira frase que ouvi quando me deparei com aquele vídeo. Na cena, o coronel da Polícia Militar recém-chegado ao batalhão de São Gonçalo interagia com as pessoas de uma forma completamente diferente da usual entre a PM. Ao invés das armas, o microfone. Saía o barulho da sirene e entrava o som do pagode. De forma descontraída, passávamos a conhecer o novo comandante do 7º BPM: Coronel Fernando Salema.
No início de junho de 2015, a convite da TV Ponto de Vista (Frederico Carvalho), participei da mesa na entrevista com o comandante do “sétimo”. Na função desde 2014, sua atuação ganhou destaque com a política de aproximação da PM com a população, onde eventos esportivos e culturais fazem parte da agenda dessa nova polícia que precisamos ter.
Com mais de 30 anos de polícia, o desafio atual do coronel é ainda maior, por conta das péssimas lembranças recentes que o Brasil tem do 7º BPM. Se voltarmos a 2011, vamos lembrar que foi desse mesmo batalhão que saíram os PMs que assassinaram a juíza Patrícia Accioli, usando as armas de uso exclusivo da polícia. Isso torna ainda mais complexo o difícil trabalho de limpar e moralizar o nome da polícia militar do Rio de Janeiro.
O já clássico “Chora, vagabundo”, com Salema cantando:
Polícia e suas questões na cidade
A entrevista promovida pela TV Ponto de Vista tinha um objetivo claro: falar à população sobre a onda de assaltos e latrocínios (roubos seguidos de morte) ocorridos nas ruas do Rio, especialmente com o uso das facas. O coronel explicou a situação desse tipo de delito. Entretanto, revelou já de início que, apesar das ocorrências, nossos problemas em São Gonçalo se concentram em duas áreas: os conflitos nas ruas (especialmente por causa dos bares e casas de show) e o tráfico de drogas, que nitidamente tornou-se um câncer na cidade.
Apesar dos conflitos recorrentes em diversas comunidades na cidade, como o Feijão, a Chumbada e a rua da feira, minha dúvida era sobre o aumento crescente do tráfico no Salgueiro, um lugar, teoricamente, “longínquo” dos centros econômicos. Segundo o comandante Salema, o Salgueiro tornou-se um ponto estratégico na receptação e distribuição das drogas, incluindo pasta base de cocaína, o “concentrado’ que dá origem à mesma droga. Por lá, além de se chegar de barco pelas rotas da baía de Guanabara, também há a via pavimentada pelos construtores do Comperj, por onde passaria o material de construção da refinaria, caso as obras não estivessem em ritmo lento. Em suma, com rotas por mar e por terra, a área tornou-se um ponto de ouro para os traficantes regionais.
Por fim, perguntamos sobre a nossa conhecida “bagunça noturna”, em pontos conhecidos da cidade. Salema disse que, apesar de terem “entrado de sola” no início, aos poucos a política de reaproximação também foi feita com eles, especialmente com aqueles que mantinham carros de som nas alturas nas ruas. Mostrando que, o mais fundamental para polícia não é apenas reprimir, mas fazer entender até onde vai o seu direito e respeito com o próximo.
Impressões finais
O que parece é que estamos entrando em um novo ciclo na segurança pública, onde ao invés da população simplesmente negar ou bater na polícia, ela também entende que a instituição é necessária, apesar de toda a memória recente de suas péssimas atuações e resquícios da época da ditadura brasileira (1964-1985).
É nítido e flagrante que policiais ainda praticam atividades vexatórias e corruptas, um problema recorrente em outros setores do governo. Entretanto, é preciso reconhecer também os esforços que a polícia está fazendo para se aproximar do cidadão, especialmente porque somos nós a principal ajuda e os mais interessados na manutenção da paz na sociedade.
Confira o trecho final da entrevista na TV Ponto de Vista:
Foto de capa: Sandro Giron