Por o Carnaval na rua não é fácil. Pelo contrário! De tempos em tempos, o maior produto cultural brasileiro é questionado. Mesmo tendo um forte impacto positivo na imagem do Brasil, ainda há quem duvide de seu potencial. Um desafio a mais para as escolas, como a nossa Unidos do Porto da Pedra.
Em tempos de recessão, com razão, cada vez mais a população questiona o poder público sobre o dinheiro doado às escolas de samba. Afinal, diante de tantos mandos e desmandos dos contraventores que ainda dominam essas organizações, as dúvidas sobre a falta de transparência do retorno do dinheiro são óbvias.
Entretanto, seria possível usar os mecanismos legais para transformar uma escola de samba como a Porto da Pedra num sucesso cultural? Tenho certeza que sim. E mais, com a ajuda do poder público municipal. Só que dessa vez, a prefeitura não precisaria injetar nenhum real na agremiação.
Empresários, bicheiros e o carnaval
Entre o final dos anos 1990 e início dos anos 2000, com a forte profissionalização do carnaval, tivemos os primeiros ensaios sobre a entrada das empresas no ambiente do carnaval do Rio. A ideia geral era reduzir a participação dos bicheiros, que naquela época estavam com a imagem desgastada e contas devassadas por conta da ofensiva da justiça contra os mesmos.
Para ter uma ideia dos anos 90, esse vídeo do Castor de Andrade em 1993 reflete bem o período.
A Unidos do Porto da Pedra é um exemplo de escola que não teve o jogo do bicho como principal mecenas. A entrada do empresário Jorge Lambel foi o motor propulsor da Porto que conhecemos hoje. Entretanto, após o falecimento do patrono, em dezembro de 2000, inicia-se um período de declínio.
Com o mecenato da contravenção reduzido, os grêmios recreativos começam a ter de buscar recursos em outros lugares. Prefeituras, países e empresas entraram forte no radar, “sugerindo” temas para o desfile. Segundo a matéria da Folha de São Paulo, em 2000, José Carlos Monassa, patrono da Viradouro na época, dizia que “esse é um caminho “lamentável”, que a escola tem evitado, até pela opinião do carnavalesco Joãosinho Trinta, que dizia que “Isso leva a uma pobreza de enredos”.”
A Porto prossegue no grupo especial até ter sua trajetória interrompida em 2012. Justamente naquele ano, o carnaval patrocinado pela Danone tinha como tema o leite, com o título “Da Seiva Materna ao Equilíbrio da Vida”. Infelizmente, o desfile não agradou aos jurados, rebaixando a agremiação para ao grupo de Acesso, posição que se encontra até hoje, em 2019.
Mas, como mudar?
Unidos do Porto da Pedra, São Gonçalo e as Leis de Incentivo: uma parceria estratégica
Em 2019, a Mancha Verde ganhou o campeonato no carnaval de São Paulo pela 1ª vez. O feito supera a estética da avenida. A vitória reflete o sucesso administrativo da escola, que conseguiu captar R$3,4 milhões de reais através da Lei Rouanet com a Crefisa. A empresa é patrocinadora do clube de futebol Palmeiras, ligado à escola de samba. Em resumo, uma parceria que rendeu muitos frutos.
Mirando o exemplo paulista, fica a pergunta: por que São Gonçalo e a Porto da Pedra não se unem num projeto estratégico de longo prazo para captar recursos?
A proposta seria uma mobilização da prefeitura, identificando, conversando e dando suporte às empresas locais que desejassem apoiar o projeto do carnaval da Unidos do Porto da Pedra. Dentro da mesma proposta, obviamente, deveria conter outros elementos que pudessem auxiliar o carnaval local, somado aos projetos educacionais que formariam mão de obra qualificada para “o maior espetáculo da terra”.
Mesmo tendo a necessidade de ter parte do barracão na cidade do Rio, por conta dos carros alegóricos, há outras atividades, como a confecção de fantasias, que poderiam se manter na cidade.
Leis de incentivo injetando dinheiro na economia local
Em 2018, o Ministério da Cultura (MinC), em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV), finalizaram um estudo avaliando o impacto da Lei Rouanet na economia brasileira. O resultado foi que a cada R$1 real investido, R$1,59 são retornados.
Na prática, reteríamos o dinheiro que vai “livre” para Brasília, girando a economia local, criando postos de trabalho, com um plano sólido de investimento na imagem da cidade. Algo que, por sua vez, pode atrair ainda mais negócios.
Sei que para que um projeto assim acontecer precisaremos de bons profissionais e muita vontade política de ambos os lados, tanto da escola quanto da prefeitura, para que tudo funcione e aconteça.
A prestação de contas é rigorosíssima quando se recebe verbas via leis de incentivo. Isso é muito positivo! A transparência das contas gera credibilidade. Um ótimo atrativo para o apoio das pessoas que desejam terminar com a farra do dinheiro público, e ainda sim ver o carnaval crescer como indústria cultural. Seja em São Gonçalo ou no estado do Rio de Janeiro.
Meu sonho ver uma Porto da Pedra grande e orgulhosa na avenida.