Sim, reeleição cancelada em São Gonçalo. E não precisou de TRE, TSE, nem tribunal algum. Foi o povo mesmo que resolveu. O atual prefeito é a última vítima dessa lei popular e invisível. Com cerca de 86% de rejeição (segundo a Câmara de Vereadores), José Luiz Nanci provavelmente não será reeleito ao executivo municipal nas próximas eleições em 2020. Repetindo uma sina que só a dama de vermelho, Aparecida Panisset, conseguiu romper.
Desde que foi aprovada a Lei da Reeleição, em 1997, apenas uma prefeita conseguiu se reeleger. Todos os outros falharam. Foram eles: Ezequiel (2000), Charles (2004), Mulim (2016) e, futuramente, Nanci (2020).
Panisset conseguiu uma proeza dupla, sendo eleita em 1º turno das duas vezes que se candidatou ao executivo (2004 e 2008). Ainda sim, podemos dizer também que a derrota do Konder em 2012, seu indicado, foi a derrocada do governo de situação que não reelegeu seu plano de poder.
E já dá pra dizer que Nanci não será reeleito?
O livro “A Cabeça do Eleitor” é repleto de exemplos sobre como acontecem as eleições, reeleições e eleições dos postes. As eleições são classificadas pelo autor como “de continuidade” e de “oposição”. E o indicador para se entender essa dinâmica é muito simples, ele se chama índice de aprovação/rejeição.
Índices acima de 51%, possível reeleição. Menor que 49%, indefinido. No caso de Nanci, com 86% faltando 1 ano para começar a campanha, diria que será bem difícil. E lembre-se que essas análises foram feitas para eleições municipais. Na nacional, com presidente, é outra história.
Reeleição cancelada é fruto de má gestão e falta de dinheiro
Independente de como Eliane Gabriel e José Luiz Nanci encontraram a prefeitura, é fato que muita coisa poderia ser feita se o perfil do casal fosse diferente. O que se vê de fora é a permissão das mesmas práticas de sempre. Loteamento das escolas, com indicação de diretores, dos postos de saúde para os vereadores, etc. Sem falar nos comentários de inchaço da máquina pública em algumas partes e falta de profissionais em outras, com uma farra de comissionados, e por aí vai.
E por que é que isso dá tão errado? Simples: porque em São Gonçalo a renda é pequena e a demanda por serviços é grande. Porém, com tantas boas práticas de gestão e tecnologia disponível, não são necessários tantos gastos com pessoal. A não ser que essas pessoas sejam da base eleitoral dos mesmos vereadores que precisam empregar as pessoas que garantirão seus votos de 4 em 4 anos.
Para se ter uma ideia, em 2017, mais de 50% dos recursos foram gastos apenas com salários. E para uma cidade pobre como a nossa, isso é bastante! A seguir, o comparativo dos recebimentos de São Gonçalo, Niterói e Maricá vindos do governo federal em 2018. Os dados são do Portal da Transparência:
A) São Gonçalo: 363 milhões de reais para 1.077.687 habitantes;
B) Niterói: 1,51 bilhão de reais para 511.786 mil habitantes;
C) Maricá: 1,54 bilhão de reais para 157.789 mil habitantes
Com uma discrepância de valores, que ocorre especialmente por conta da divisão falha dos Royalties do petróleo, é possível compreender como uma cidade pode ser pobre ao lado de duas ricas.
E como melhorar?
A solução é odiada por boa parte dos políticos. Afinal, ela promete algo que seria óbvio em uma empresa: gestão. Redução dos gastos inúteis com replanejamento das funções dos servidores. Afinal, se a prefeitura continuar nesse ritmo, em breve se tornará uma mera gestora da folha salarial.
O resultado é o que vemos constantemente. Temos uma administração fraca, cujos resultados são sempre os mesmos: pouco ou nenhum dinheiro para os investimentos básicos, como iluminação, asfalto, saneamento, equipamentos de sinalização, entre outros serviços que toda cidade gere.
Se antes esse inchaço da máquina pública garantia uma eleição tranquila para si e seus aliados, o que hoje vemos é que apenas vereadores se beneficiam dessa mamata.
O motivo é que o número de votos necessários para uma reeleição de vereadores é baixo. O que significa que se um deles conseguir se apossar de uma secretaria, garante um polpudo salário de 12k em sua conta, mais os salários de seus apoiadores, que se tornam subsecretários e funcionários comissionados. Inclusive aquelas “lideranças” que mobilizam os bairros. Lembra daquelas pessoas que sempre sabem os atalhos para resolver algo especial na prefeitura? Então, são elas mesmas.
Porém, com meia-dúzia de carguinhos distribuídos e um legislativo que bate cerca de 94% de rejeição (segundo eles próprios numa sessão da Câmara em 21/08/2019), hoje é impossível para o alcaide disputar uma reeleição. Sem falar que é bem possível que ele queime toda sua carreira política dali em diante.
O único caminho de um prefeito
Num momento como o atual, onde as esperanças estão abaixo do fundo do poço, precisamos de um prefeito que se imponha. Que não abra mão de carguinhos para agradar vereadores sem nível técnico, nem a partidos que pretendem manter seus partidários empregados.
Como já disse, não há muitas escolhas. Só uma prefeitura com folha de pagamento enxuta e muita criatividade conseguirá atrair investimentos para virar o jogo. Em casa que o dinheiro é curto, se economiza.
São Gonçalo ainda não encontrou seu caminho. E é bem possível que em 2020, novos candidatos apareçam, fazendo o mesmo esquema de loteamento de cargos nos núcleos de gerenciamento para gente sem qualificação. Repetindo os erros sem fim.
Alguns esquecem que quando Aparecida Panisset esteve prefeita foi um daqueles momentos de crescimento econômico brasileiro que dificilmente se repetirão. Tinha dinheiro para fazer um pouquinho e desviar bastante. Infelizmente.
Para os próximos prefeitos, fica o aviso: se não entrar com esse pensamento, jogará sua carreira política no lixo. Afinal, a reeleição está cancelada. E para reativá-la, há muito o que fazer.
[…] que temos é que caso José Luiz Nanci tente a reeleição, ele terá grandes dificuldades, dada a rejeição existente até o […]