Mesmo que recolhessem todas as drogas do Rio de Janeiro, ainda haveria mortes. Bingos, caça-níqueis, clínicas de aborto clandestinas, assaltos, desmanche de carros, venda de produtos piratas, gatonet, roubo de cargas. Tudo isso faz parte da cadeia do crime, cujo principal aditivo é a corrupção da polícia e dos políticos.
Isso é óbvio. Entretanto, pouco falado por quem deseja apenas demonizar as drogas, acobertando outros crimes tão danosos quanto o crack, a erva e o pó.
Num curto espaço de tempo, entre as semanas de agosto de 2017, pelo menos 2 crimes contra policiais aconteceram em São Gonçalo. Ambos muito similares, aparentemente classificados como assaltos. No dia 24/08/2017, na Madama, e 29/07/2017, no Mutuá.
O 100º policial morto no Rio
A imprensa do RJ estava com sede de sangue. Certamente, as capas com o 100º policial já deviam estar sendo preparadas há tempos. A contagem regressiva era mais um aditivo agressivo à mente de tantos profissionais que trabalham sob estresse a todo minuto.
Somado a isso, é horrível a sensação de saber que um companheiro de trabalho pode estar trabalhando contra você. Aquela pequena parcela corrupta que faz um estrago imenso à vida de todos. Inclusive às famílias e amigos dos policiais.
Corrupção da polícia e dos políticos é a principal assassina
Apesar de redundante e cansativo, é preciso lembrar que a Operação Calabar, que prendeu diversos PMs no 7º BPM, foi apenas uma ponta de um processo que ainda está longe do fim. Afinal, como tantas armas são capazes de chegar ao Rio de Janeiro todos os dias?
A gravidade da corrupção passou do limite do que antes era aceitável, permitido ou considerado normal. Hoje, a corrupção mata e devasta famílias.
Há poucos anos atrás, a corrupção policial foi tolerada e justificada pelos baixos salários. Em outros momentos, era permitida por conta da corrupção dos políticos que influenciavam na polícia, pressionando o policial honesto a aceitar os ilícitos que financiavam os governantes.
Mas o mais comum da história era a situação do policial honesto que, para proteger sua própria vida e de sua família, tinha de ser condescendente com a parcela corrupta.
Aliás, o exemplo ficcional do policial Mathias, no filme Tropa de Elite 2, não foi inventado ao acaso. Caso você não lembre, André Mathias é assassinado pelas costas pelos próprios companheiros de trabalho, por querer investigar mais.
Se antes os honestos morriam por denunciar, hoje não há escapatória. A corrupção permite a venda de armamentos aos marginais. E a bala volta no corpo do policial, que também é cidadão.
Assim chegamos aos calamitosos 3 dígitos em mortes policiais. Emocionalmente, devastador para famílias. Financeiramente, difícil para o estado, que gastará ainda mais com pensões, treinamentos e contratações de novos policiais. Sem falar na dificuldade para atrair bons profissionais com cenário tão complicado.
O tráfico de drogas é só mais um negócio
Se antes o tráfico era apontado como o principal financiador de todos os males, hoje isso é facilmente questionável. Afinal, qual a diferença do dinheiro gerado pelo roubo de cargas e pelas drogas?
Independente da atividade ilícita, o mais importante para o crime é só gerar dinheiro. Qualquer ilícito permitido pela corrupção da polícia e dos políticos (sim, eles inclusive), servirá para comprar armas e proteger o novo negócio criminoso que se instalar em nosso território.
Força e fé aos policiais honestos que estão na ativa!
Infelizmente, tivemos que chegar ao fundo do poço para por pra fora todo o lado podre da polícia. Mas tenhamos certeza que, a cada corrupto denunciado e preso, menos armas e munições chegarão nas mãos dos bandidos. E menos confrontos armados na vida de todos nós.
Todas as vidas valem muito.