José Luiz Nanci publicou uma carta ao povo de São Gonçalo na qual declarou “profunda tristeza”. O sentimento não foi causado pela pobreza generalizada que o município de 1 milhão de habitantes sofre. A carta não cita a violência que ataca os gonçalenses nas ruas e os aprisiona dentro de casa. O prefeito ficou profundamente triste porque foi satirizado pelo bloco de carnaval Quem Manda É A Mulher e o vídeo da sátira se espalhou nas redes sociais.
Cartas à população são publicadas com moderação por governantes, diante de questões públicas excepcionais. Nunca com o intuito de defender a honra pessoal contra uma sátira carnavalesca, aspecto cultural brasileiro. Nanci se rebaixou moralmente por uma preocupação excessiva com a própria imagem, imagem que no início do governo se tornou mais importante do que fazer o trabalho para o qual foi eleito.
Repletas da sujeira do comércio informal, de gente que luta pra superar a pobreza, as ruas da cidade estão imundas. Parecemos uma cidade medieval que faz do escambo sua atividade principal.
Através do lixo, da pobreza, da falta de infraestrutura e da escassez de serviços públicos se compreende o tamanho da tragédia gonçalense. Ela não afeta apenas alguns bairros ou comunidades. Desorganização, feiúra e sujeira formam o cenário municipal. Vaza esgoto pra todo lado. Há ruas na escuridão completa. Nos distritos de Ipiíba e Monjolos, que reúnem quase 40 bairros, bois, cabras, pombos, cavalos, porcos, cães e diferentes espécies de animais disputam ao mesmo tempo as pilhas de lixo nas esquinas. Recentemente uma nova espécie passou a ser vista catando comida no lixo: o gonçalense.
Infestada por barricadas, o tráfico de drogas dominou São Gonçalo. Os carros só circulam com o pisca-alerta ligado fora dos centros comerciais. Quando um estalinho explode, as pessoas se jogam no chão, com medo de tiro. Os jovens lamentam a morte de traficantes no Facebook, enquanto a comunidade onde moram é extorquida pelos mesmos traficantes. Segurança pública vai além da ação da polícia estadual e também faz parte da responsabilidade do governo municipal.
Com Nanci na dianteira, São Gonçalo se arrasta no chão, sem ordem, sem progresso, sem futuro. Ela é a cidade mais quebrada dentro de um Estado quebrado e corrupto, o Rio de Janeiro.
E o simpático Zé Luiz perde tempo com blocos de carnaval. Diante do caos, o prefeito se ocupa em empregar o máximo de parentes dentro do Poder Executivo, usurpar direitos do servidor público e rebater acusações sobre sua moleza notória.