Como qualquer pessoa sã, desaprovo a depredação do patrimônio público, ainda que esteja abandonado. Contudo, sou completamente a favor da elevação da voz do povo de São Gonçalo, que nasce, vive e morre calado, apanhando de políticos incompetentes; respeito atos de desespero contra esta apatia, e o que fez Fabiano Barreto no início do ano, quando pintou de rosa o tanque na Praça dos Ex-combatentes. Foi um ato de desespero libertador.
O desespero não é a solução esperada, mas se faz necessário pois nos obriga a rejeitar a miséria cotidiana. Embora ocorram absurdos na administração municipal diariamente, como aquisição de serviços e produtos milionários sem licitação, São Gonçalo é monótona politicamente – aqueles que estão no poder, para manter suas falcatruas ocultas, se movimentam pouco, e a população permanece insensível ao próprio sofrimento. Escasso, o ativismo gonçalense na forma de um tanque pintado de rosa ou faixa de protesto pendurada em via pública vira notícia nos principais jornais do estado do Rio de Janeiro.
Particularmente estou à beira do desespero em relação a Praça Chico Mendes, no Raul Veiga; quando passo por ela quase choro. Quero arrancar com minhas mãos aquela monstruosidade de ferro que colocaram no lugar das quadras poliesportivas e da pista de skate, mas preciso de ferramentas apropriadas. Estou disposto a ser preso, sem ter as quadras de volta, para me libertar das náuseas provocadas ao ver a prova descarada do desprezo do governo pelo lazer popular.
Por que não protestei antes, enquanto a praça era destruída? Porque eu vegeto, como a maioria dos gonçalenses. Não sabia que ao cuidar da cidade onde moro, promovo meu bem-estar e ao me preocupar exclusivamente com meu bem-estar, esquecia da cidade onde moro. Não convidarei ninguém para participar deste ato de desespero – este artigo certamente será usado como prova de culpa – mas todos são bem-vindos, de preferência portando boa ferramenta cortante.
O ativista útil zela pela cidade, planta árvores, ensina algo valoroso às crianças, participa das assembleias da Câmara de Vereadores, enfim, serve de exemplo de cidadania. Ou apenas entra em desespero e inspira outros cidadãos.