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A chegada do vereador Papai Noel

A chegada do vereador Papai Noel

Papai Noel foi eleito vereador em São Gonçalo pela segunda vez. O primeiro ato do bom velhinho, ainda não diplomado, antes de tocar no gordo contracheque de R$ 15 mil, foi fazer uma festa de agradecimento pelos votos recebidos no Vila Três, seu curral eleitoral.

Na semana anterior o carro de som anunciou alto pelo bairro “A chegada de Papai Noel” e as crianças ficaram alvoroçadas. “Então Papai Noel existe”, era a conclusão natural delas, e não havia alegria maior porque Noel traria consigo atrações incríveis: pula-pula, fliperama, basquete eletrônico, piscina de bolinhas, algodão doce, pipoca e até tamancobol, jogo empolgante que não existia na minha infância. Nas ruas onde o carro de som passava, os pequenos mais insistentes arrancavam de seus pais o compromisso de levá-los ao lugar da grande chegada, a praça do Fumacê, comunidade dentro do Vila Três.

A praça está mal conservada, tem balanços quebrados, mato e lixo espalhados no chão, mas Papai Noel foi assim mesmo. Que homem humilde. E como sabe fazer uma festa boa sem revelar suas verdadeiras intenções e a origem da grana.

Não dava pra contar as crianças nas filas dos brinquedos, ou correndo pra cá e pra lá com sorriso no rosto, pipoca em uma das mãos e refrigerante na outra. Podia haver 100 ou 150 delas. Dezenas se espalharam só no campo de várzea onde um campeonato de futebol acontecia, dois times de meninos uniformizados disputavam uma partida e outros garotos aguardavam sua vez de jogar.

Ainda não lembrei de dizer que era tudo de graça, característica inconfundível dos eventos patrocinados por Noel, inclusive em tempos de crise econômica. Os brinquedos dos melhores shoppings centers de São Gonçalo espalhados ao alcance dos pobres, tudo de graça, até a cerveja distribuída moderadamente para as mamães e papais. A presença de Papai Noel na praça do Fumacê era deliciosa e seu poder mais óbvio do que a existência de Deus.

A harmonia da festa foi quebrada quando os bondes de motocicletas, sem placas, passaram em alta velocidade em direção ao Morro da Caixa d’Água. Carregavam jovens, negros, sem capacete e sem camisa mas usando boné, a moda da favela. Crianças que antes frequentavam as festas do Papai Noel e hoje são soldados do tráfico.

Quando as ajudantes de Papai Noel apareceram, houve uma comoção geral. Elas se aproximaram das crianças, colaram um adesivo da última campanha eleitoral no peito delas e disseram que era preciso manter o adesivo colado no corpo para ganhar presente. Os meninos e meninas pulavam, gritavam e rodavam de mãos dados, dando saltos de extrema felicidade. No adesivo estava escrito “Nanci 23”. Não sabia que o prefeito eleito é amigo do velhinho mais famoso do mundo.

Antes de cumprir sua promessa e distribuir os presentes, o vereador Papai Noel fez um louvável discurso em defesa da Educação. Ele não quer nenhuma criança gonçalense fora da escola. Mas, infelizmente, cometeu um erro grave: não colocou nenhuma lata de lixo no local da sua chegada. Crianças de todas as idades terminavam o algodão doce e jogavam o palito no chão, também repleto de copos descartáveis. Cena desagradável, mal educada e nem um pouco natalina.

Mário Lima Jr.
Mário Lima Jr.http://mariolimajr.com
Moro em São Gonçalo e toda semana escrevo sobre minha relação com a cidade.

Papai Noel foi eleito vereador em São Gonçalo pela segunda vez. O primeiro ato do bom velhinho, ainda não diplomado, antes de tocar no gordo contracheque de R$ 15 mil, foi fazer uma festa de agradecimento pelos votos recebidos no Vila Três, seu curral eleitoral.

Na semana anterior o carro de som anunciou alto pelo bairro “A chegada de Papai Noel” e as crianças ficaram alvoroçadas. “Então Papai Noel existe”, era a conclusão natural delas, e não havia alegria maior porque Noel traria consigo atrações incríveis: pula-pula, fliperama, basquete eletrônico, piscina de bolinhas, algodão doce, pipoca e até tamancobol, jogo empolgante que não existia na minha infância. Nas ruas onde o carro de som passava, os pequenos mais insistentes arrancavam de seus pais o compromisso de levá-los ao lugar da grande chegada, a praça do Fumacê, comunidade dentro do Vila Três.

A praça está mal conservada, tem balanços quebrados, mato e lixo espalhados no chão, mas Papai Noel foi assim mesmo. Que homem humilde. E como sabe fazer uma festa boa sem revelar suas verdadeiras intenções e a origem da grana.

Não dava pra contar as crianças nas filas dos brinquedos, ou correndo pra cá e pra lá com sorriso no rosto, pipoca em uma das mãos e refrigerante na outra. Podia haver 100 ou 150 delas. Dezenas se espalharam só no campo de várzea onde um campeonato de futebol acontecia, dois times de meninos uniformizados disputavam uma partida e outros garotos aguardavam sua vez de jogar.

Ainda não lembrei de dizer que era tudo de graça, característica inconfundível dos eventos patrocinados por Noel, inclusive em tempos de crise econômica. Os brinquedos dos melhores shoppings centers de São Gonçalo espalhados ao alcance dos pobres, tudo de graça, até a cerveja distribuída moderadamente para as mamães e papais. A presença de Papai Noel na praça do Fumacê era deliciosa e seu poder mais óbvio do que a existência de Deus.

A harmonia da festa foi quebrada quando os bondes de motocicletas, sem placas, passaram em alta velocidade em direção ao Morro da Caixa d’Água. Carregavam jovens, negros, sem capacete e sem camisa mas usando boné, a moda da favela. Crianças que antes frequentavam as festas do Papai Noel e hoje são soldados do tráfico.

Quando as ajudantes de Papai Noel apareceram, houve uma comoção geral. Elas se aproximaram das crianças, colaram um adesivo da última campanha eleitoral no peito delas e disseram que era preciso manter o adesivo colado no corpo para ganhar presente. Os meninos e meninas pulavam, gritavam e rodavam de mãos dados, dando saltos de extrema felicidade. No adesivo estava escrito “Nanci 23”. Não sabia que o prefeito eleito é amigo do velhinho mais famoso do mundo.

Antes de cumprir sua promessa e distribuir os presentes, o vereador Papai Noel fez um louvável discurso em defesa da Educação. Ele não quer nenhuma criança gonçalense fora da escola. Mas, infelizmente, cometeu um erro grave: não colocou nenhuma lata de lixo no local da sua chegada. Crianças de todas as idades terminavam o algodão doce e jogavam o palito no chão, também repleto de copos descartáveis. Cena desagradável, mal educada e nem um pouco natalina.

Mário Lima Jr.
Mário Lima Jr.http://mariolimajr.com
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