Vamos pular de fase? Vamos agora pensar para além de estética, além de ideias e ideais, além de raça, gênero, religiosidade, gosto musical. Enfim… Vamos agora falar de representatividade territorial.
Tenho falado muito, mas muito mesmo a respeito de como representatividade importa. Porque além de você se reconhecer no mundo (o que é absurdamente importante) você se sente representado, e isso te ajuda a se construir e reconstruir enquanto ser vivente. A importância da representatividade, pra mim, transcende a ideia do externo, porque dependendo de sua intensidade e pureza ela te transforma a alma.
Mas enfim, vamos às vias de fato: representatividade territorial. Acredito que a maioria das pessoas que lerão este artigo são gonçalenses, gonçalenses em sua maioria que não se reconhecem em sua própria cidade. A própria cidade vive uma bipolaridade que ainda não consegui definir se positiva ou negativa, pois da mesma forma que pode ser a “SG cidade pequena e sem nada” é também a “SG monstruosamente urbana com complexidades das cidades grandes”. Acredito que aquela infeliz propaganda, onde uma mulher diz claramente “Deus me livre eu dizer que moro em São Gonçalo” expressa bem a total falta de reconhecimento com esse pedaço de terra, pedaço de terra grande, com mais de 1 milhão e meio de habitantes que pensam em algum grau, dessa forma.
Mas, se a cidade em que você nasceu e provavelmente teve as maiores amizades da sua vida, provavelmente teve as melhores brincadeiras de rua, as melhores competições de cafifa nas Lages, os melhores e mais diversos eventos culturais… Se cabe nesse pedação de chão, as memórias mais ternas que você carrega consigo e que essa cidade foi palco pra você protagonizar, porque ela você a nega? São Gonçalo é abandonada não só no sentido da gestão pública, mas também no sentido literal de afeto, sentimento de pertencimento, desejo de cuidar. Eu já me convenci que essa cidade aqui que é a tal da cidade maravilhosa. E você? O que falta aqui pra te fazer se reconhecer?