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Estão matando a nossa polícia – o território dominado

Estão matando a nossa polícia – o território dominado

Há cerca de 5 anos atrás, enquanto muitos comemoravam a política das UPPs, a gente já previa os tempos difíceis. Digo “a gente” porque eu não estava sozinho nessa. Não mesmo! Certamente, você e seus amigos, colegas e familiares já pensavam a mesma coisa que eu: esse câncer chamado tráfico de drogas e armas vai se espalhar para o Rio de Janeiro inteiro e chegar em São Gonçalo com força total.

No passado, muitos ainda desqualificavam quando os moradores diziam que após a ECO 92 o crime chegou com mais força por aqui. Na Conferência Mundial do Meio Ambiente do início da década de 90, o exército foi para as ruas da capital para deixar a situação mais calma durante o evento. Hoje, com os ventos da Copa e da Olimpíada, o mesmo aconteceu. A diferença é que o dinheiro acabou antes do tempo, e o que já era ruim, ficou pior pra todo mundo.

Exército na Eco 92 – Rio de Janeiro

Exército nas ruas na Eco 92, Rio de Janeiro (capital).

 

Por aqui, como uma doença sem cura, a bandidagem mais que se espalhou, se profissionalizou. Instalou suas bases no Morro da Coruja, recrutou alguns garotos no Feijão, Mutuapira, Chumbada, Dita, Caixa D’Água, Rua da Feira, formando um pequeno exército de homens recém-chegados à maioridade, cuja única missão é gastar o resto de suas vidas dando a cara a tapa, ficando presos em suas comunidades, enquanto grandes traficantes ficam cada vez mais ricos e livres.

Mas o maior golpe estava por vir. Aproveitando-se da incompetência do estado brasileiro, da trapalhada do governo federal com a Comperj, somada ao corpo mole dos governos municipal e estadual, os traficantes, sempre alguns passos à frente da polícia, viram a oportunidade única de montar uma fortaleza em São Gonçalo. A posição privilegiada, de frente para a Baía de Guanabara, não poderia ser melhor. De graça, ainda ganharam a ponte construída pela Petrobras, ligando o Salgueiro ao Jardim Catarina, por cima do rio Alcântara. Agora, com livre acesso à toda a região leste fluminense, o tráfico estava livre para expandir seus negócios por aqui.

Mapa de São Gonçalo – Palmeiras e Jardim Catarina

Mapa da região do Salgueiro, Palmeiras, Fazenda dos Mineiros e Jardim Catarina, por onde passa a ponte construída pela Petrobras para o Comperj.

 

O resultado de hoje é fruto de todo esse processo. Nós, que já não tínhamos uma polícia proporcional à nossa população, perdemos o direito de ir e vir, sem falar na vida de crianças e adultos, com as incontáveis balas perdidas que sempre encontram alguém por aí. Ganhamos armas incríveis, capazes de disparar dezenas de balas por segundo, enquanto a nossa polícia não consegue se multiplicar na mesma velocidade, por conta da incompetência do poder público. Para complicar ainda mais a situação, precisamos banir as brechas do judiciário e a discórdia entre as polícias civil e militar que, na verdade, deveriam ser uma só.

Com o território dominado, o poder paralelo do crime se afirma como oficial. Estamos sendo derrotados, vendo a PM retirar seu posto policial da comunidade do Salgueiro como se estivesse sido expulsa do local. Moralmente, estão matando a nossa polícia. Se antes, o secretário José Mariano Beltrame era a salvação, hoje ele é mais um nesse governo moribundo, que vê seus órgãos morrerem um a um sem poder para agir.

Cabine de polícia saindo do território do Salgueiro – São Gonçalo

São tempos difíceis. Se antes pensávamos que o pior estava por vir, hoje temos a certeza de que ele chegou.

Matheus Graciano
Matheus Gracianohttps://www.matheusgraciano.com.br
Matheus Graciano é o criador do SIM São Gonçalo, onde fez o meio de campo da revista eletrônica de 2012 a 2020. É designer que programa, escreve e planeja. Trabalha na Caffifa Agência e Consultoria Digital.

Há cerca de 5 anos atrás, enquanto muitos comemoravam a política das UPPs, a gente já previa os tempos difíceis. Digo “a gente” porque eu não estava sozinho nessa. Não mesmo! Certamente, você e seus amigos, colegas e familiares já pensavam a mesma coisa que eu: esse câncer chamado tráfico de drogas e armas vai se espalhar para o Rio de Janeiro inteiro e chegar em São Gonçalo com força total.

No passado, muitos ainda desqualificavam quando os moradores diziam que após a ECO 92 o crime chegou com mais força por aqui. Na Conferência Mundial do Meio Ambiente do início da década de 90, o exército foi para as ruas da capital para deixar a situação mais calma durante o evento. Hoje, com os ventos da Copa e da Olimpíada, o mesmo aconteceu. A diferença é que o dinheiro acabou antes do tempo, e o que já era ruim, ficou pior pra todo mundo.

Exército na Eco 92 – Rio de Janeiro

Exército nas ruas na Eco 92, Rio de Janeiro (capital).

 

Por aqui, como uma doença sem cura, a bandidagem mais que se espalhou, se profissionalizou. Instalou suas bases no Morro da Coruja, recrutou alguns garotos no Feijão, Mutuapira, Chumbada, Dita, Caixa D’Água, Rua da Feira, formando um pequeno exército de homens recém-chegados à maioridade, cuja única missão é gastar o resto de suas vidas dando a cara a tapa, ficando presos em suas comunidades, enquanto grandes traficantes ficam cada vez mais ricos e livres.

Mas o maior golpe estava por vir. Aproveitando-se da incompetência do estado brasileiro, da trapalhada do governo federal com a Comperj, somada ao corpo mole dos governos municipal e estadual, os traficantes, sempre alguns passos à frente da polícia, viram a oportunidade única de montar uma fortaleza em São Gonçalo. A posição privilegiada, de frente para a Baía de Guanabara, não poderia ser melhor. De graça, ainda ganharam a ponte construída pela Petrobras, ligando o Salgueiro ao Jardim Catarina, por cima do rio Alcântara. Agora, com livre acesso à toda a região leste fluminense, o tráfico estava livre para expandir seus negócios por aqui.

Mapa de São Gonçalo – Palmeiras e Jardim Catarina

Mapa da região do Salgueiro, Palmeiras, Fazenda dos Mineiros e Jardim Catarina, por onde passa a ponte construída pela Petrobras para o Comperj.

 

O resultado de hoje é fruto de todo esse processo. Nós, que já não tínhamos uma polícia proporcional à nossa população, perdemos o direito de ir e vir, sem falar na vida de crianças e adultos, com as incontáveis balas perdidas que sempre encontram alguém por aí. Ganhamos armas incríveis, capazes de disparar dezenas de balas por segundo, enquanto a nossa polícia não consegue se multiplicar na mesma velocidade, por conta da incompetência do poder público. Para complicar ainda mais a situação, precisamos banir as brechas do judiciário e a discórdia entre as polícias civil e militar que, na verdade, deveriam ser uma só.

Com o território dominado, o poder paralelo do crime se afirma como oficial. Estamos sendo derrotados, vendo a PM retirar seu posto policial da comunidade do Salgueiro como se estivesse sido expulsa do local. Moralmente, estão matando a nossa polícia. Se antes, o secretário José Mariano Beltrame era a salvação, hoje ele é mais um nesse governo moribundo, que vê seus órgãos morrerem um a um sem poder para agir.

Cabine de polícia saindo do território do Salgueiro – São Gonçalo

São tempos difíceis. Se antes pensávamos que o pior estava por vir, hoje temos a certeza de que ele chegou.

Matheus Graciano
Matheus Gracianohttps://www.matheusgraciano.com.br
Matheus Graciano é o criador do SIM São Gonçalo, onde fez o meio de campo da revista eletrônica de 2012 a 2020. É designer que programa, escreve e planeja. Trabalha na Caffifa Agência e Consultoria Digital.

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