A expressão “novo normal” se tornou habitual para descrever o que será o mundo pós Covid-19. Mas, que mundo é esse? Com uma população heterogênea como a nossa, achar que tudo irá mudar igualmente para os nossos mais de 1 milhão de habitantes seria uma ingenuidade.
Quando a quarentena começou, surgiram vários questionamentos, como:
- Quem tem emprego formal aqui?
- Informal ou formal, quem tem reservas para se bancar em casa durante semanas?
- Quem consegue trabalhar de casa?
- Quem tem acesso à internet decente?
- Minha casa é em área de risco?
- Os entregadores e os Correios conseguirão entregar na minha residência?
- Meu trabalho é essencial, como vou me transportar em ônibus tão cheios?
- Não tenho conta em banco, como recebo meu auxílio emergencial?
- Meu celular não tem potência para por aplicativos de banco online, como fazer transações sem usar dinheiro?
- Aqui em casa, o 3G e o 4G funcionam?
- Quantas pessoas aqui tem água potável chegando com regularidade em casa?
Diante de tudo isso, esse novo normal é pra quem?
Por aqui, enquanto a parte mais abastada da cidade tem uma rede de serviços de entrega precária e possibilidade limitada de fazer pedidos pela internet, aqueles com menor poder financeiro sequer sabem o que é isso.
A primeira onda da pandemia no RJ parece estar arrefecendo. Ainda sim, ela deixa as nossas vísceras sociais abertas. As desigualdades regionais moram nos detalhes. E essa lista de perguntas e suas respostas pouco agradáveis parecem nos mostrar alguns indicativos de para onde nossa sociedade irá a curto prazo, caso tudo se mantenha como está.
E nem falei sobre o comportamento negacionista de algumas pessoas, não usando máscaras em locais públicos e lotando casas de show e restaurantes. Vamos fingir que foram apenas “descuidos” momentâneos.
Enfim uma análise lúcida, Matheus. Parabéns. Por mais textos assim sobre a nossa cidade. Quem dera outros fizessem o mesmo.