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Sofrimento do gonçalense comum

Sofrimento do gonçalense comum

O gonçalense comum, cuja renda familiar gira em torno do salário mínimo, nasce geralmente nas maternidades do Centro, Nova Cidade, Porto Velho ou Neves, que atendem através do Sistema Único de Saúde. O menino ou menina suporta a primeira infância na creche comunitária, em casa com os irmãos ou na adversidade da rua, logo que aprende a andar. Quando matriculado na rede municipal de ensino, sua frequência é irregular, falta professor, merenda, uniforme, estímulo ao estudo e apoio intelectual dos pais.

Perde cada vez mais aulas a partir do segundo ano do Ensino Fundamental, já tem 9 anos e mal sabe juntar as letras, sua escrita é péssima, a única diversão são as brincadeiras de rua.

Avança em idade e se interessa por roupas de marca, boné, tênis, relógio e joias, seus pais dizem aos gritos que não têm dinheiro para comprar nada disso. Parentes lhe apresentam o álcool, mas como sua tolerância ainda é baixa, temporariamente deixa de beber.

O garoto ou garota passa menos tempo em casa ao se envolver completamente com a rua e seus frequentadores, os amigos. Quanto mais cresce, menos vai à escola: perambula, solta pipa, joga futebol, frequenta lan houses, aprende a fugir e mente com perfeição sobre seu paradeiro.

Antes dos 18 anos, quando descobre a maconha, pensa “minha vida está completa”. O dinheiro continua escasso, às vezes arruma uns trocados, até rouba para ir a festas sozinho e se embebedar. Arruma o primeiro emprego, engraxate, carregador ou ajudante de qualquer coisa, quando muito terminou o Ensino Fundamental e definitivamente para de estudar. Pratica sexo com frequencia, tem dezenas de amigos, acha que sua vida nunca foi tão boa, embora a grana seja curta.

Se for menina, engravida nesta época. O menino tem seu primeiro filho. Não sabe o nome do prefeito da cidade. Jamais praticou qualquer esporte além do futebol no campinho de várzea improvisado em terreno baldio. O único sonho é conquistar mais dinheiro sem saber como, visto que não tem formação educacional.

Se torna um adulto condenado à informalidade, aos problemas financeiros, às drogas, escravo das ações displicentes do passado. Vive de bicos por toda a vida. O álcool, que jamais abandonou (como os amigos de copo), traz os primeiros problemas de saúde no fim da juventude.

São Gonçalo continua a mesma cidade, às escuras, que não sabe lidar com o próprio lixo, sem oportunidades de trabalho, que mata inocentes por falta de manutenção básica na rede elétrica porque não conta com o apoio deste gonçalense comum. Ao mesmo tempo ele precisa desesperadamente de São Gonçalo para ser feliz.

Mário Lima Jr.
Mário Lima Jr.http://mariolimajr.com
Moro em São Gonçalo e toda semana escrevo sobre minha relação com a cidade.

O gonçalense comum, cuja renda familiar gira em torno do salário mínimo, nasce geralmente nas maternidades do Centro, Nova Cidade, Porto Velho ou Neves, que atendem através do Sistema Único de Saúde. O menino ou menina suporta a primeira infância na creche comunitária, em casa com os irmãos ou na adversidade da rua, logo que aprende a andar. Quando matriculado na rede municipal de ensino, sua frequência é irregular, falta professor, merenda, uniforme, estímulo ao estudo e apoio intelectual dos pais.

Perde cada vez mais aulas a partir do segundo ano do Ensino Fundamental, já tem 9 anos e mal sabe juntar as letras, sua escrita é péssima, a única diversão são as brincadeiras de rua.

Avança em idade e se interessa por roupas de marca, boné, tênis, relógio e joias, seus pais dizem aos gritos que não têm dinheiro para comprar nada disso. Parentes lhe apresentam o álcool, mas como sua tolerância ainda é baixa, temporariamente deixa de beber.

O garoto ou garota passa menos tempo em casa ao se envolver completamente com a rua e seus frequentadores, os amigos. Quanto mais cresce, menos vai à escola: perambula, solta pipa, joga futebol, frequenta lan houses, aprende a fugir e mente com perfeição sobre seu paradeiro.

Antes dos 18 anos, quando descobre a maconha, pensa “minha vida está completa”. O dinheiro continua escasso, às vezes arruma uns trocados, até rouba para ir a festas sozinho e se embebedar. Arruma o primeiro emprego, engraxate, carregador ou ajudante de qualquer coisa, quando muito terminou o Ensino Fundamental e definitivamente para de estudar. Pratica sexo com frequencia, tem dezenas de amigos, acha que sua vida nunca foi tão boa, embora a grana seja curta.

Se for menina, engravida nesta época. O menino tem seu primeiro filho. Não sabe o nome do prefeito da cidade. Jamais praticou qualquer esporte além do futebol no campinho de várzea improvisado em terreno baldio. O único sonho é conquistar mais dinheiro sem saber como, visto que não tem formação educacional.

Se torna um adulto condenado à informalidade, aos problemas financeiros, às drogas, escravo das ações displicentes do passado. Vive de bicos por toda a vida. O álcool, que jamais abandonou (como os amigos de copo), traz os primeiros problemas de saúde no fim da juventude.

São Gonçalo continua a mesma cidade, às escuras, que não sabe lidar com o próprio lixo, sem oportunidades de trabalho, que mata inocentes por falta de manutenção básica na rede elétrica porque não conta com o apoio deste gonçalense comum. Ao mesmo tempo ele precisa desesperadamente de São Gonçalo para ser feliz.

Mário Lima Jr.
Mário Lima Jr.http://mariolimajr.com
Moro em São Gonçalo e toda semana escrevo sobre minha relação com a cidade.

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