Não bebi, não fumei nem usei nenhum tipo de alucinógeno, mas fiquei doidão a 534 metros de altitude no Alto do Gaia, ponto mais alto de São Gonçalo, e me apaixonei de vez pela cidade.
Assim que coloquei o pé no topo da montanha, acima do voo dos urubus, percebi que São Gonçalo é maior que a sujeira urbana e o descaso público, infinitamente maior. A cidade é bela. Verde, calma, ventilada. Contra o bom senso, construíram uma merda apertada de concreto e pouco asfalto em parte do território onde a maioria da população, desesperançada, vive.
Depois do primeiro ensinamento do Gaia, as alucinações começaram. Na minha frente a quilômetros de distância, lá embaixo, vi Neilton Mulim cair no choro dentro do gabinete do prefeito, desistir da reeleição e pedir perdão ao povo pelo prejuízo que causou com seu governo criminoso. Seus apoiadores na Câmara de Vereadores realizaram logo após a expiação a Audiência Pública da Vergonha e do Arrependimento. Um grande feito sem mais ações concretas.
São Gonçalo ao alcance dos olhos, virei a cabeça para Neves, depois olhei o Colubandê, e vi construídos os Centros de Esporte e Lazer Unificados, os maiores do Brasil, como previa o projeto inicial. Os jovens desempregados abandonavam os bares onde antes se embriagavam e trocavam futilidades o dia inteiro e entravam nos centros com skate e livro na mão. Vi bibliotecas públicas espalhadas em cada distrito, o bairro Sacramento urbanizado, acessível a cadeirantes.
No Raul Veiga as crianças iam felizes à escola municipal do bairro, carinhosamente chamada de Rato Velho. Havia atividades para desenvolvimento de jogos digitais e aprendiam técnicas de comunicação e gravação de vídeo para a Internet. Gamer e youtuber são as profissões dos sonhos dos adolescentes de hoje, os ladrões de merenda precisam saber.
Próximo a linha do horizonte, o mais longe que meus olhos alcançavam, o antigo lixão de Itaoca tinha virado o maior centro de reciclagem da América Latina. Atendia ao município, ajudou a resolver a questão do lixo espalhado nas ruas, e recebia material das cidades vizinhas, gerando renda e empregos.
Desejo do trabalhador, avistei uma linha nova cortando a cidade de Neves a Guaxindiba e tive certeza de que era uma alucinação provocada pelo poder transformador do Gaia: era a Linha 3 do Metrô.
Na descida do Alto do Gaia, a umidade refrescante da floresta gonçalense guardava borboletas gigantescas de asas pretas nas bordas e azuis no meio, há mais de 50 anos não vistas em bairros como Alcântara. Aquilo era real, bem como o pé carregado de laranja-da-terra, na beira da Estrada do Sítio da Pedra, que fiz questão de tocar. O Gaia nos diz: “Recomecem, há tempo e espaço suficientes para desenvolvimento inteligente em São Gonçalo”.
Confira as fotos do evento:
Olá. Como faço para chegar no Alto do Gaia??
Oi, Milena.
Há um tempo atrás, havia pessoas organizando grupos para trilhas ao Alto do Gaia.
Eu sugiro que você busque os grupos no Facebook. 😉
Abraços