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Ampla, Cerj e CBEE – a segunda via de uma história sem energia

Ampla, Cerj e CBEE – a segunda via de uma história sem energia

Você já se imaginou sem energia elétrica? Bem, quando se mora em São Gonçalo não é preciso imaginação. A realidade é mais forte. Constantemente, nos vemos sem luz. A instabilidade da rede é grande, o que torna comum a falta de energia. Graças a esse problema frequente, em 2015, a Ampla, atual distribuidora de energia elétrica, ficou entre as 5 piores operadoras do país, segundo a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). Disputando com mais 35 companhias, ela ganhou a 32ª posição. Ufa! Três lugares a menos e já poderia ser considerada a “campeã brasileira da falta de luz.” Um título que São Gonçalo não quer. Não mesmo.

Apesar de muito se reclamar da Ampla, ela é só mais uma empresa na história da energia elétrica em São Gonçalo. Aliás, sugiro que você leia o texto, pois conhecer a trajetória das coisas é fundamental para quem deseja pensar novas soluções para um problema que parece não ter fim.

Você sabe como começou esse jogo da luz?

Antes de tudo, voltemos a 1908, quando foi inaugurada a hidrelétrica de Piabanha. A estação foi construída em “Entrerios”, hoje conhecida como Três Rios, lá na divisa com Minas Gerais. Os rios Piabanha, Paraíba do Sul e Paraibuna formam um delta, um encontro entre 3 rios que dão nome à cidade. Em pouco tempo, a empresa passou a se chamar Hidrelétrica Alberto Torres que, comandada pela empresa Guinle e Companhia, tornou-se a principal fornecedora de energia do Estado do Rio de Janeiro, abastecendo Petrópolis, Niterói e São Gonçalo.

Delta triplo com os rios de Três Rios, Rio de Janeiro. Da esquerda para a direita: Rio Piabanha, Paraíba do Sul e Paraibuna.
Delta triplo com os rios de Três Rios, Rio de Janeiro. Da esquerda para a direita: Rio Piabanha, Paraíba do Sul e Paraibuna. O início da produção de energia elétrica para São Gonçalo.

Um ano mais tarde, a companhia privada Guinle e Companhia é entregue ao domínio estatal, sendo comandada pela CBEE, a Companhia Brasileira de Energia Elétrica. Porém, em 1927, a empresa American and Foreing Power Company Inc. compra a CBEE, adquirindo também outras várias concessionárias de energia no Rio e em São Paulo. Novamente, a concessão passa para o domínio privado. A fim de ampliar sua capacidade, a CBEE se interliga a outras empresas como a Rio de Janeiro Trainway Light and Power Company Limited e Rio Light, que já atendiam a cidade do Rio de Janeiro, capital do país na época.

Até aqui, boa parte das empresas que forneciam luz para o estado do Rio de Janeiro e Guanabara eram privadas. Eis que em 1964, os militares intervém no governo, dando o golpe que depôs João Goulart. Porém, não foi só o Jango que caiu. Com a veia nacionalista, os militares também depuseram a empresa que controlava a CBEE, tornando-a pública outra vez, sendo administrada pelo governo estadual.

E a CERJ?

Em 1979, quando o Geisel passou o governo para as mãos do Figueiredo, a ditadura militar já estava se preparando para sair de cena. Nesse mesmo ano, a CBEE assume os serviços de eletrificação rural do estado, antes prestados pelas Centrais Elétricas Fluminenses SA. Na prática, o que houve foi uma junção das companhias, que deu origem à uma empresa que muitos ainda lembram, a Companhia de Eletrecidade do Rio de Janeiro, a (pouco) querida CERJ.

Em 1990, no governo Collor, foi aprovada a Lei nº 8.031/1990, que trazia o Programa Nacional de Desestatização. A promessa era reduzir o aparato administrativo do governo, deixando o “estado menor”, além de aprimorar e expandir os serviços de forma mais ágil, o que teoricamente as empresas privadas fariam melhor. Assim, em 1996, o Rio de Janeiro teve a sua 1ª empresa privatizada: a CERJ. O governo Marcello Alencar (1995-1998) foi o responsável pelo leilão da estatal que, mais uma vez, mudou de mãos, indo novamente para o controle privado.

CBEE, Cerj e Ampla - A segunda via de uma história sem energia
“Cerj começa a se preparar para a privatização.” Agência O Globo, 26 de setembro de 1995. Confira a versão em maior resolução.

A Ampla e os novos rumos da energia nas cidades

A Ampla apareceu na cena fluminense em 2004. A empresa de luz que atende boa parte do estado Rio de Janeiro, mudou de nome novamente, prometendo melhorias e segurança no fornecimento de energia. Mas… não foi bem isso que aconteceu.

Existe um grande descompasso entre empresa e população. Isso não é por acaso. É verdade que parte dessa antipatia veio após as mudanças na medição da luz. Os antigos “relógios” foram aposentados em benefício da medição feita através dos “chips”. Uma das justificativas é que se eliminou duas conhecidas práticas: as “adulterações” nos relógios, que segundo alguns relatos, algumas vezes eram feitos por uma parcela mínima de técnicos mal-intensionados mediante propina; e os “gatos”, a manobra popular que faz ligações clandestinas para furtar energia do sistema. Muitas pessoas tomaram um “susto” nos primeiros pagamentos de luz, o que gerou descontentamento geral, aproveitamento político da situação por alguns vereadores e um movimento chamado “fora Ampla”, que mais gritou do que agiu.

Ampla Homem-gato
O Homem-gato do Jardim Catarina, fazendo uma ligação clandestina no bairro e correndo risco vida.

Em 2015, a Ampla informou que seu “plano de melhoria de qualidade” investiu R$ 565,34 milhões na melhoria do sistema. Porém, como se sente, basta o tempo fechar, o vento bater e a chuva cair para que a cidade fique às escuras. Aliás, não só São Gonçalo, mas Niterói, Itaboraí e todas as outras cidades vizinhas à nossa, também clientes da Ampla.

É bem verdade que parte da população ainda insiste em furtar energia. Por ser carente na educação e financeiramente, alguns cidadãos ainda não compreenderam a necessidade de pagar pelo serviço que não é de graça. Porém, a Ampla, após quase 20 anos de concessão, ainda não compreendeu que não basta cobrar, mas prestar um serviço digno, que muita das vezes é feito porcamente.

Se pudéssemos ter alguns minutos com os gerentes da Ampla, lhe daríamos 2 dicas básicas: a primeira é sobre a necessidade da empresa em participar mais da vida da cidade, através de eventos, projetos sociais e culturais, tornando-se amiga do cliente. A segunda é sobre a transparência. A comunicação evasiva que se dá nos momentos de falta de luz são deprimentes. Isso deixa o cidadão irritado, ainda mais quando ele honra seus pagamentos sem atrasos, como faz a maioria.

Espero que você tenha chegado até aqui se sentindo mais capaz de cobrar seus direitos, além de pressionar os órgãos públicos que tem como dever cobrar satisfações da companhia. Só juntos poderemos reescrever a nova história da energia em São Gonçalo.

Fonte: https://www.ampla.com/a-ampla/conhe%C3%A7a/hist%C3%B3rico.aspx (10 de março de 2015)

Matheus Graciano
Matheus Gracianohttps://www.matheusgraciano.com.br
Matheus Graciano é o criador do SIM São Gonçalo, onde fez o meio de campo da revista eletrônica de 2012 a 2020. É designer que programa, escreve e planeja. Trabalha na Caffifa Agência e Consultoria Digital.

Você já se imaginou sem energia elétrica? Bem, quando se mora em São Gonçalo não é preciso imaginação. A realidade é mais forte. Constantemente, nos vemos sem luz. A instabilidade da rede é grande, o que torna comum a falta de energia. Graças a esse problema frequente, em 2015, a Ampla, atual distribuidora de energia elétrica, ficou entre as 5 piores operadoras do país, segundo a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica). Disputando com mais 35 companhias, ela ganhou a 32ª posição. Ufa! Três lugares a menos e já poderia ser considerada a “campeã brasileira da falta de luz.” Um título que São Gonçalo não quer. Não mesmo.

Apesar de muito se reclamar da Ampla, ela é só mais uma empresa na história da energia elétrica em São Gonçalo. Aliás, sugiro que você leia o texto, pois conhecer a trajetória das coisas é fundamental para quem deseja pensar novas soluções para um problema que parece não ter fim.

Você sabe como começou esse jogo da luz?

Antes de tudo, voltemos a 1908, quando foi inaugurada a hidrelétrica de Piabanha. A estação foi construída em “Entrerios”, hoje conhecida como Três Rios, lá na divisa com Minas Gerais. Os rios Piabanha, Paraíba do Sul e Paraibuna formam um delta, um encontro entre 3 rios que dão nome à cidade. Em pouco tempo, a empresa passou a se chamar Hidrelétrica Alberto Torres que, comandada pela empresa Guinle e Companhia, tornou-se a principal fornecedora de energia do Estado do Rio de Janeiro, abastecendo Petrópolis, Niterói e São Gonçalo.

Delta triplo com os rios de Três Rios, Rio de Janeiro. Da esquerda para a direita: Rio Piabanha, Paraíba do Sul e Paraibuna.
Delta triplo com os rios de Três Rios, Rio de Janeiro. Da esquerda para a direita: Rio Piabanha, Paraíba do Sul e Paraibuna. O início da produção de energia elétrica para São Gonçalo.

Um ano mais tarde, a companhia privada Guinle e Companhia é entregue ao domínio estatal, sendo comandada pela CBEE, a Companhia Brasileira de Energia Elétrica. Porém, em 1927, a empresa American and Foreing Power Company Inc. compra a CBEE, adquirindo também outras várias concessionárias de energia no Rio e em São Paulo. Novamente, a concessão passa para o domínio privado. A fim de ampliar sua capacidade, a CBEE se interliga a outras empresas como a Rio de Janeiro Trainway Light and Power Company Limited e Rio Light, que já atendiam a cidade do Rio de Janeiro, capital do país na época.

Até aqui, boa parte das empresas que forneciam luz para o estado do Rio de Janeiro e Guanabara eram privadas. Eis que em 1964, os militares intervém no governo, dando o golpe que depôs João Goulart. Porém, não foi só o Jango que caiu. Com a veia nacionalista, os militares também depuseram a empresa que controlava a CBEE, tornando-a pública outra vez, sendo administrada pelo governo estadual.

E a CERJ?

Em 1979, quando o Geisel passou o governo para as mãos do Figueiredo, a ditadura militar já estava se preparando para sair de cena. Nesse mesmo ano, a CBEE assume os serviços de eletrificação rural do estado, antes prestados pelas Centrais Elétricas Fluminenses SA. Na prática, o que houve foi uma junção das companhias, que deu origem à uma empresa que muitos ainda lembram, a Companhia de Eletrecidade do Rio de Janeiro, a (pouco) querida CERJ.

Em 1990, no governo Collor, foi aprovada a Lei nº 8.031/1990, que trazia o Programa Nacional de Desestatização. A promessa era reduzir o aparato administrativo do governo, deixando o “estado menor”, além de aprimorar e expandir os serviços de forma mais ágil, o que teoricamente as empresas privadas fariam melhor. Assim, em 1996, o Rio de Janeiro teve a sua 1ª empresa privatizada: a CERJ. O governo Marcello Alencar (1995-1998) foi o responsável pelo leilão da estatal que, mais uma vez, mudou de mãos, indo novamente para o controle privado.

CBEE, Cerj e Ampla - A segunda via de uma história sem energia
“Cerj começa a se preparar para a privatização.” Agência O Globo, 26 de setembro de 1995. Confira a versão em maior resolução.

A Ampla e os novos rumos da energia nas cidades

A Ampla apareceu na cena fluminense em 2004. A empresa de luz que atende boa parte do estado Rio de Janeiro, mudou de nome novamente, prometendo melhorias e segurança no fornecimento de energia. Mas… não foi bem isso que aconteceu.

Existe um grande descompasso entre empresa e população. Isso não é por acaso. É verdade que parte dessa antipatia veio após as mudanças na medição da luz. Os antigos “relógios” foram aposentados em benefício da medição feita através dos “chips”. Uma das justificativas é que se eliminou duas conhecidas práticas: as “adulterações” nos relógios, que segundo alguns relatos, algumas vezes eram feitos por uma parcela mínima de técnicos mal-intensionados mediante propina; e os “gatos”, a manobra popular que faz ligações clandestinas para furtar energia do sistema. Muitas pessoas tomaram um “susto” nos primeiros pagamentos de luz, o que gerou descontentamento geral, aproveitamento político da situação por alguns vereadores e um movimento chamado “fora Ampla”, que mais gritou do que agiu.

Ampla Homem-gato
O Homem-gato do Jardim Catarina, fazendo uma ligação clandestina no bairro e correndo risco vida.

Em 2015, a Ampla informou que seu “plano de melhoria de qualidade” investiu R$ 565,34 milhões na melhoria do sistema. Porém, como se sente, basta o tempo fechar, o vento bater e a chuva cair para que a cidade fique às escuras. Aliás, não só São Gonçalo, mas Niterói, Itaboraí e todas as outras cidades vizinhas à nossa, também clientes da Ampla.

É bem verdade que parte da população ainda insiste em furtar energia. Por ser carente na educação e financeiramente, alguns cidadãos ainda não compreenderam a necessidade de pagar pelo serviço que não é de graça. Porém, a Ampla, após quase 20 anos de concessão, ainda não compreendeu que não basta cobrar, mas prestar um serviço digno, que muita das vezes é feito porcamente.

Se pudéssemos ter alguns minutos com os gerentes da Ampla, lhe daríamos 2 dicas básicas: a primeira é sobre a necessidade da empresa em participar mais da vida da cidade, através de eventos, projetos sociais e culturais, tornando-se amiga do cliente. A segunda é sobre a transparência. A comunicação evasiva que se dá nos momentos de falta de luz são deprimentes. Isso deixa o cidadão irritado, ainda mais quando ele honra seus pagamentos sem atrasos, como faz a maioria.

Espero que você tenha chegado até aqui se sentindo mais capaz de cobrar seus direitos, além de pressionar os órgãos públicos que tem como dever cobrar satisfações da companhia. Só juntos poderemos reescrever a nova história da energia em São Gonçalo.

Fonte: https://www.ampla.com/a-ampla/conhe%C3%A7a/hist%C3%B3rico.aspx (10 de março de 2015)

Matheus Graciano
Matheus Gracianohttps://www.matheusgraciano.com.br
Matheus Graciano é o criador do SIM São Gonçalo, onde fez o meio de campo da revista eletrônica de 2012 a 2020. É designer que programa, escreve e planeja. Trabalha na Caffifa Agência e Consultoria Digital.

2 COMENTÁRIOS

  1. Como faço para enviar um Curriculum vitae para ampla, pois gostaria muito em fazer parte dessa equipe.
    Meu telefone de contato 21-97301-0461

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