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Animais abandonados, de quem é a responsabilidade?

Animais abandonados, de quem é a responsabilidade?

Virou rotina andar pelas ruas de São Gonçalo e passar por animais abandonados. Eu, por exemplo, assistia pela janela do carro e sentia bastante pena. Sentimento este, que não serve para nada, a não ser, esboçar mentalmente uma desculpa pela minha falta de iniciativa em ajudar os animais.

LEIA TAMBÉM: Abrigo para animais abandonados em São Gonçalo: Sonho ou Dura Realidade? 

Ingenuamente pensava aqui, do alto da minha ignorância, que não tinha nada a ver com isso, aliás, nem animais de estimação eu tenho, mas aos poucos fui descobrindo que a culpa era inteiramente minha.

A história toda começa com um cachorro abandonado chegando na rua onde moro. O coitado não conseguia parar de se coçar. Para mim (e para maioria, acredito eu), era apenas mais um cachorro abandonado por um morador vítima da crise financeira. Aquela coisa, o animal doméstico tem custos e, quando a conta não fecha no final do mês, acabou sobrando para o peludo com sarna, neste caso. Como a rua é bastante movimentada de carros e pessoas, é natural achar que o animal seguisse sua própria sorte por outras ruas e, quem sabe, encontrar um dono. Mas, contra todos os achistas, o cão resolveu ficar.

O cão Coceirinha e a mercearia do Careca.
O cão Coceirinha e a mercearia do Careca.

Basta uma pessoa tomar iniciativa

O cachorro permaneceu alguns dias e começamos a chamá-lo de Coceirinha. Ele simplesmente não parava de se coçar, não dormia porque se coçava. O sofrimento do bichinho só foi amenizado por Careca, apelido de Wagner, que arrumou ração e fez uma barraquinha de madeira reaproveitada de sua pequena mercearia na rua.

A casa criada pela Mercearia do Careca para ser o lar do cão Coceirinha.
A casa criada pela Mercearia do Careca para ser o lar do cão Coceirinha.

Além disso, Wagner levou o cachorro no petshop e no veterinário. Foi a partir desse ato que outros moradores tomaram a iniciativa de ajudar. Duas vizinhas do condomínio compraram remédios e fizeram uma casinha com dois baldes, que não custaram mais do que 20 reais. Outro vizinho deu uma roupinha, outro deu uma manta.

O cãozinho foi melhorando, a sarna e a coceira diminuíram até parar (mas o apelido continuou, rs). “Agora, as pessoas passam aqui e perguntam pelo Coceirinha.”, comenta Careca, “Basta uma pessoa fazer para que as outras ajudem. Mas acho que as pessoas deveriam ajudar mais. Outro dia, ele saiu atrás de uma cachorrinha e voltou mancando. Ele só vai ficar bem mesmo quando tiver um lar para se sentir seguro.”

A dupla Careca e Coceirinha
A dupla Careca e Coceirinha.

Foi nessa conversa que decidi fazer alguma coisa para sair da minha inércia de desatenção. Afinal, eu quero me sentir seguro, porque o Coceira não ia querer também? A tentativa de conseguir um lar para o bichinho me fez ir para rua e ver a realidade da cidade.

Mulheres gerando impacto positivo na cidade

Em um domingo, dia 2 de julho, aconteceu a feira de adoção “Leve um anjo para casa” no Shopping Partage, Centro de São Gonçalo. Fui na expectativa de saber mais sobre adoção e conversar sobre o atual estado da cidade em relação ao abandono. E, para surpresa deste ignorante que vos fala, o que encontrei foram vozes poderosas de pessoas engajadas com a saúde e bem-estar dos animais e, sobretudo, mulheres gerando impacto positivo na cidade.

Cachorrinha Pandora na Feira de adoção 'Leve um anjo para casa'.
Cachorrinha Pandora na Feira de adoção ‘Leve um anjo para casa.

De primeira, o que vi foi uma cena que me impactou bastante. Uma mulher acabara de adotar um cachorro e a protetora caiu aos prantos. Não era o choro de alguém que perde alguma coisa, era o choro que contava a história de um ser humano e seu companheiro. Era a história de Léa, a protetora, que resgatou Ed jogado dentro de uma lata de lixo, com ferimentos graves e a mandíbula quebrada. Naquele momento, o cão que ela cuidou por meses estava seguindo seu caminho depois de todo cuidado. “Fiquei com pena de adotar, porque ela chorou.”, Évia Alves emocionada, “Eu vim adotar porque meu cachorro faleceu recentemente. E é estranho ficar sem cachorro, porque a casa fica vazia, não tem ninguém para me fazer companhia quando todo mundo sai.”

O grupo organiza uma espécie de doação assistida, que exige a identificação do adotante com a assinatura de um termo de responsabilidade. O que achei mais interessante: o protetor oferece assistência, caso o adotante precise. Assim, o vínculo ainda permanece com o animal, ou seja, visitas aos animais podem ser marcadas.

Évia Alves e sua família completa, agora com Ed no Shopping Partage.
Évia Alves e sua família completa, agora com Ed no Shopping Partage.

Essas pessoas, mulheres em sua maioria, agem para dar proteção e acabam sendo retribuídas pelos bichinhos com afeto. No entanto, ainda são estigmatizadas por cuidarem de muitos animais. Mônica Nunes, é uma das organizadoras do evento, que atua também em Itaboraí, e trabalha de forma voluntária há 10 anos com proteção e resgate de animais. “Eu acho que agora nosso trabalho está começando a ser mais divulgado, antes nós éramos taxadas como malucas. Hoje em dia não, hoje as pessoas nos respeitam.”

Animais abandonados: questão de saúde pública

Foi interessante ver que muitas pessoas na cidade estão se movendo. Tomando a responsabilidade de melhorar o lugar onde vive. Afinal, a questão dos animais abandonados é um questão de saúde pública. O Estado do Rio de Janeiro há décadas tem um alarmante índice de esporotricose. Eu já tinha ouvido falar da raiva e do tétano, mas esse nome é novo. A esporotricose é uma micose, causada por um fungo, que pode afetar animais e humanos.

“São Gonçalo está engatinhando na questão de direitos dos animais, proteção de animais. Está começando a pensar nisso, já teve uma audiência pública sobre isso em outubro de 2015, falaram que em janeiro ia ter contêineres, mas até hoje nada foi definido.”, explica Sharon Morais, Presidente da Comissão de Proteção e defesa dos animais da OAB de Niterói.

Feira de adoção no Shopping Partage
Feira de adoção no Shopping Partage.

Há ainda a questão das pessoas que usam os animais para procriar e vender os filhotes. Muitas vezes os animais são submetidos a condições terríveis de higiene e alimentação. A tentativa de obter lucro faz com que os custos sejam cortados e o intervalo entre crias é diminuído, trazendo consequências sérias para a saúde dos animais. “É o capitalismo na sua forma mais nojenta. Descarta aquela ali e já pega uma cria que está mais nova para colocar no lugar dela. Preso em um canto só para procriar. Não tem afeto, não tem nada.”, comenta Sharon Morais.

A responsabilidade é minha, é sua, é de todos nós

Ao mesmo tempo, que foi desolador enxergar o cenário de abandono da cidade, foi incrível ter contato com essas pessoas que agem. E entender de fato que a culpa pelos animais abandonados é minha, é sua, é nossa. Afinal, a cidade é um conjunto que deve funcionar de maneira integrada e não podemos ficar esperando o poder público.

Organizadora da Feira de Animais, Mônica Nunes, e seu filho.
Organizadora da Feira de Animais, Mônica Nunes, e seu filho.

Primeiro, para você que está pensando em abandonar um peludinho, peça ajuda, junte pessoas que queiram ajudar ou leve para adoção, de maneira nenhuma descarte. Segundo, se um animal já foi abandonado, é muito possível que haja alguém querendo adotar. Hoje temos a internet como aliada, seja em páginas do Facebook ou grupos no Whatsapp, não há desculpa nesse mundo que nos impeça de parar o carro, fazer um resgate, achar um lugar temporário ou apenas tirar uma foto do bichinho e divulgar. Você pode não querer adotar, mas pode ser a ponte entre um Coceirinha e um adotante.

Durante esse o tempo da publicação deste artigo, o Coceirinha acabou sendo adotado por um vizinho da rua. Careca, seu protetor, ainda ajuda no que pode, parece que quando o cachorro precisa ir no veterinário só ele consegue acalmar o companheiro peludo.

DENUNCIE MAUS TRATOS PELO TELEFONE: 2199-6511

Fernando Bittencourt
Fernando Bittencourt
Sou Fernando Bittencourt, meu negócio é ouvir os outros, contar histórias e criar imagens. Estudei Comunicação Social na PUC-Rio.

Virou rotina andar pelas ruas de São Gonçalo e passar por animais abandonados. Eu, por exemplo, assistia pela janela do carro e sentia bastante pena. Sentimento este, que não serve para nada, a não ser, esboçar mentalmente uma desculpa pela minha falta de iniciativa em ajudar os animais.

LEIA TAMBÉM: Abrigo para animais abandonados em São Gonçalo: Sonho ou Dura Realidade? 

Ingenuamente pensava aqui, do alto da minha ignorância, que não tinha nada a ver com isso, aliás, nem animais de estimação eu tenho, mas aos poucos fui descobrindo que a culpa era inteiramente minha.

A história toda começa com um cachorro abandonado chegando na rua onde moro. O coitado não conseguia parar de se coçar. Para mim (e para maioria, acredito eu), era apenas mais um cachorro abandonado por um morador vítima da crise financeira. Aquela coisa, o animal doméstico tem custos e, quando a conta não fecha no final do mês, acabou sobrando para o peludo com sarna, neste caso. Como a rua é bastante movimentada de carros e pessoas, é natural achar que o animal seguisse sua própria sorte por outras ruas e, quem sabe, encontrar um dono. Mas, contra todos os achistas, o cão resolveu ficar.

O cão Coceirinha e a mercearia do Careca.
O cão Coceirinha e a mercearia do Careca.

Basta uma pessoa tomar iniciativa

O cachorro permaneceu alguns dias e começamos a chamá-lo de Coceirinha. Ele simplesmente não parava de se coçar, não dormia porque se coçava. O sofrimento do bichinho só foi amenizado por Careca, apelido de Wagner, que arrumou ração e fez uma barraquinha de madeira reaproveitada de sua pequena mercearia na rua.

A casa criada pela Mercearia do Careca para ser o lar do cão Coceirinha.
A casa criada pela Mercearia do Careca para ser o lar do cão Coceirinha.

Além disso, Wagner levou o cachorro no petshop e no veterinário. Foi a partir desse ato que outros moradores tomaram a iniciativa de ajudar. Duas vizinhas do condomínio compraram remédios e fizeram uma casinha com dois baldes, que não custaram mais do que 20 reais. Outro vizinho deu uma roupinha, outro deu uma manta.

O cãozinho foi melhorando, a sarna e a coceira diminuíram até parar (mas o apelido continuou, rs). “Agora, as pessoas passam aqui e perguntam pelo Coceirinha.”, comenta Careca, “Basta uma pessoa fazer para que as outras ajudem. Mas acho que as pessoas deveriam ajudar mais. Outro dia, ele saiu atrás de uma cachorrinha e voltou mancando. Ele só vai ficar bem mesmo quando tiver um lar para se sentir seguro.”

A dupla Careca e Coceirinha
A dupla Careca e Coceirinha.

Foi nessa conversa que decidi fazer alguma coisa para sair da minha inércia de desatenção. Afinal, eu quero me sentir seguro, porque o Coceira não ia querer também? A tentativa de conseguir um lar para o bichinho me fez ir para rua e ver a realidade da cidade.

Mulheres gerando impacto positivo na cidade

Em um domingo, dia 2 de julho, aconteceu a feira de adoção “Leve um anjo para casa” no Shopping Partage, Centro de São Gonçalo. Fui na expectativa de saber mais sobre adoção e conversar sobre o atual estado da cidade em relação ao abandono. E, para surpresa deste ignorante que vos fala, o que encontrei foram vozes poderosas de pessoas engajadas com a saúde e bem-estar dos animais e, sobretudo, mulheres gerando impacto positivo na cidade.

Cachorrinha Pandora na Feira de adoção 'Leve um anjo para casa'.
Cachorrinha Pandora na Feira de adoção ‘Leve um anjo para casa.

De primeira, o que vi foi uma cena que me impactou bastante. Uma mulher acabara de adotar um cachorro e a protetora caiu aos prantos. Não era o choro de alguém que perde alguma coisa, era o choro que contava a história de um ser humano e seu companheiro. Era a história de Léa, a protetora, que resgatou Ed jogado dentro de uma lata de lixo, com ferimentos graves e a mandíbula quebrada. Naquele momento, o cão que ela cuidou por meses estava seguindo seu caminho depois de todo cuidado. “Fiquei com pena de adotar, porque ela chorou.”, Évia Alves emocionada, “Eu vim adotar porque meu cachorro faleceu recentemente. E é estranho ficar sem cachorro, porque a casa fica vazia, não tem ninguém para me fazer companhia quando todo mundo sai.”

O grupo organiza uma espécie de doação assistida, que exige a identificação do adotante com a assinatura de um termo de responsabilidade. O que achei mais interessante: o protetor oferece assistência, caso o adotante precise. Assim, o vínculo ainda permanece com o animal, ou seja, visitas aos animais podem ser marcadas.

Évia Alves e sua família completa, agora com Ed no Shopping Partage.
Évia Alves e sua família completa, agora com Ed no Shopping Partage.

Essas pessoas, mulheres em sua maioria, agem para dar proteção e acabam sendo retribuídas pelos bichinhos com afeto. No entanto, ainda são estigmatizadas por cuidarem de muitos animais. Mônica Nunes, é uma das organizadoras do evento, que atua também em Itaboraí, e trabalha de forma voluntária há 10 anos com proteção e resgate de animais. “Eu acho que agora nosso trabalho está começando a ser mais divulgado, antes nós éramos taxadas como malucas. Hoje em dia não, hoje as pessoas nos respeitam.”

Animais abandonados: questão de saúde pública

Foi interessante ver que muitas pessoas na cidade estão se movendo. Tomando a responsabilidade de melhorar o lugar onde vive. Afinal, a questão dos animais abandonados é um questão de saúde pública. O Estado do Rio de Janeiro há décadas tem um alarmante índice de esporotricose. Eu já tinha ouvido falar da raiva e do tétano, mas esse nome é novo. A esporotricose é uma micose, causada por um fungo, que pode afetar animais e humanos.

“São Gonçalo está engatinhando na questão de direitos dos animais, proteção de animais. Está começando a pensar nisso, já teve uma audiência pública sobre isso em outubro de 2015, falaram que em janeiro ia ter contêineres, mas até hoje nada foi definido.”, explica Sharon Morais, Presidente da Comissão de Proteção e defesa dos animais da OAB de Niterói.

Feira de adoção no Shopping Partage
Feira de adoção no Shopping Partage.

Há ainda a questão das pessoas que usam os animais para procriar e vender os filhotes. Muitas vezes os animais são submetidos a condições terríveis de higiene e alimentação. A tentativa de obter lucro faz com que os custos sejam cortados e o intervalo entre crias é diminuído, trazendo consequências sérias para a saúde dos animais. “É o capitalismo na sua forma mais nojenta. Descarta aquela ali e já pega uma cria que está mais nova para colocar no lugar dela. Preso em um canto só para procriar. Não tem afeto, não tem nada.”, comenta Sharon Morais.

A responsabilidade é minha, é sua, é de todos nós

Ao mesmo tempo, que foi desolador enxergar o cenário de abandono da cidade, foi incrível ter contato com essas pessoas que agem. E entender de fato que a culpa pelos animais abandonados é minha, é sua, é nossa. Afinal, a cidade é um conjunto que deve funcionar de maneira integrada e não podemos ficar esperando o poder público.

Organizadora da Feira de Animais, Mônica Nunes, e seu filho.
Organizadora da Feira de Animais, Mônica Nunes, e seu filho.

Primeiro, para você que está pensando em abandonar um peludinho, peça ajuda, junte pessoas que queiram ajudar ou leve para adoção, de maneira nenhuma descarte. Segundo, se um animal já foi abandonado, é muito possível que haja alguém querendo adotar. Hoje temos a internet como aliada, seja em páginas do Facebook ou grupos no Whatsapp, não há desculpa nesse mundo que nos impeça de parar o carro, fazer um resgate, achar um lugar temporário ou apenas tirar uma foto do bichinho e divulgar. Você pode não querer adotar, mas pode ser a ponte entre um Coceirinha e um adotante.

Durante esse o tempo da publicação deste artigo, o Coceirinha acabou sendo adotado por um vizinho da rua. Careca, seu protetor, ainda ajuda no que pode, parece que quando o cachorro precisa ir no veterinário só ele consegue acalmar o companheiro peludo.

DENUNCIE MAUS TRATOS PELO TELEFONE: 2199-6511

Fernando Bittencourt
Fernando Bittencourt
Sou Fernando Bittencourt, meu negócio é ouvir os outros, contar histórias e criar imagens. Estudei Comunicação Social na PUC-Rio.

2 COMENTÁRIOS

  1. Acho uma tremenda covardia abandonar os pobrezinhos pelas ruas. Eu, particularmente, amo os animais. Possuo 7 cadelas e 4 gatas em minha casa, pelas quais sou apaixonado e cuido com muito amor e carinho. E todas elas foram resgatadas das ruas.
    Esse maldito governo deveria incentivar as pessoas a adotarem esses pobrezinhos, pois, não dão incentivo fiscais para empresários, entre outros?

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  1. Acho uma tremenda covardia abandonar os pobrezinhos pelas ruas. Eu, particularmente, amo os animais. Possuo 7 cadelas e 4 gatas em minha casa, pelas quais sou apaixonado e cuido com muito amor e carinho. E todas elas foram resgatadas das ruas.
    Esse maldito governo deveria incentivar as pessoas a adotarem esses pobrezinhos, pois, não dão incentivo fiscais para empresários, entre outros?

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