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A beleza abandona o Jockey às 3:40 da manhã

A beleza abandona o Jockey às 3:40 da manhã

Robson sai de casa às 3:40 da manhã, de segunda a sexta, e pega três ônibus. Ele mora no Jockey, em São Gonçalo, e trabalha como jardineiro na Barra da Tijuca. Trabalham mais jardineiros na Barra, bairro rico, do que garis em São Gonçalo – cidade pobre, violenta e perdida nas mãos do prefeito José Luiz Nanci.

Quando tem tiroteio pelo controle do tráfico de drogas no Jockey, quase todo dia, Robson vai trabalhar se abaixando e se escondendo atrás dos muros e dos postes de luz. O primeiro ônibus deixa o jardineiro em Tribobó. O segundo, no Centro do Rio de Janeiro. Robson desce do terceiro ônibus a menos de um quilômetro do trabalho, depois de percorrer 50 quilômetros. Uma das passagens a empresa se recusa a pagar. A negociação com o patrão dá ao trabalhador que ganha menos de dois salários mínimos duas opções: aceitar ou ser demitido. Viva, Temer. Salve a reforma trabalhista.

Robson aduba a terra, rega as plantas, poda os arbustos, apara a grama e cuida dos canteiros. Seu esforço beneficia o Rio de Janeiro. Vão o suor, a dedicação, a beleza da profissão e ficam a violência e a sujeira. O jardineiro sai de uma localidade onde animais de grande porte se alimentam do lixo apodrecendo nas esquinas e vai embelezar a Barra.

Serviço que não é licitado há anos, a taxa de coleta de lixo paga por Robson e pelos gonçalenses aumentou. Ao invés de economizar o dinheiro do cidadão, o prefeito Nanci enriquece a Marquise Ambiental, empresa paga pra fazer a coleta.

Tente imaginar um jardineiro retirando folhas secas de uma calçada no Jockey. Utópico. Faltam calçadas, acessibilidade, rosas, não há jardins públicos. Morte e descaso tomaram o bairro gonçalense há décadas, já dizia o Rap do Jockey, cantado por MC Nenzinho.

Não existe esperança de urbanização e segurança para comunidades pobres, não sob o governo Temer, não com um Ministro do Desenvolvimento Social que vê a força das armas como solução para a crise na segurança pública. A violência, na verdade, se aproxima cada vez mais da Barra da Tijuca, por isso a intervenção federal. Enquanto concentrada nos morros e favelas, não incomodava os donos do poder.

Nos ônibus da linha 315, Central x Recreio, pessoas viajam acessando a página São Gonçalo Vai Mudar. Em municípios diferentes, mas dentro da mesma região metropolitana, o Jockey poderia ser tão belo quanto a Barra da Tijuca (sem a mesquinhez do bairro carioca, claro). O cuidado com o patrimônio público não depende de dinheiro.

Mário Lima Jr.
Mário Lima Jr.http://mariolimajr.com
Moro em São Gonçalo e toda semana escrevo sobre minha relação com a cidade.

Robson sai de casa às 3:40 da manhã, de segunda a sexta, e pega três ônibus. Ele mora no Jockey, em São Gonçalo, e trabalha como jardineiro na Barra da Tijuca. Trabalham mais jardineiros na Barra, bairro rico, do que garis em São Gonçalo – cidade pobre, violenta e perdida nas mãos do prefeito José Luiz Nanci.

Quando tem tiroteio pelo controle do tráfico de drogas no Jockey, quase todo dia, Robson vai trabalhar se abaixando e se escondendo atrás dos muros e dos postes de luz. O primeiro ônibus deixa o jardineiro em Tribobó. O segundo, no Centro do Rio de Janeiro. Robson desce do terceiro ônibus a menos de um quilômetro do trabalho, depois de percorrer 50 quilômetros. Uma das passagens a empresa se recusa a pagar. A negociação com o patrão dá ao trabalhador que ganha menos de dois salários mínimos duas opções: aceitar ou ser demitido. Viva, Temer. Salve a reforma trabalhista.

Robson aduba a terra, rega as plantas, poda os arbustos, apara a grama e cuida dos canteiros. Seu esforço beneficia o Rio de Janeiro. Vão o suor, a dedicação, a beleza da profissão e ficam a violência e a sujeira. O jardineiro sai de uma localidade onde animais de grande porte se alimentam do lixo apodrecendo nas esquinas e vai embelezar a Barra.

Serviço que não é licitado há anos, a taxa de coleta de lixo paga por Robson e pelos gonçalenses aumentou. Ao invés de economizar o dinheiro do cidadão, o prefeito Nanci enriquece a Marquise Ambiental, empresa paga pra fazer a coleta.

Tente imaginar um jardineiro retirando folhas secas de uma calçada no Jockey. Utópico. Faltam calçadas, acessibilidade, rosas, não há jardins públicos. Morte e descaso tomaram o bairro gonçalense há décadas, já dizia o Rap do Jockey, cantado por MC Nenzinho.

Não existe esperança de urbanização e segurança para comunidades pobres, não sob o governo Temer, não com um Ministro do Desenvolvimento Social que vê a força das armas como solução para a crise na segurança pública. A violência, na verdade, se aproxima cada vez mais da Barra da Tijuca, por isso a intervenção federal. Enquanto concentrada nos morros e favelas, não incomodava os donos do poder.

Nos ônibus da linha 315, Central x Recreio, pessoas viajam acessando a página São Gonçalo Vai Mudar. Em municípios diferentes, mas dentro da mesma região metropolitana, o Jockey poderia ser tão belo quanto a Barra da Tijuca (sem a mesquinhez do bairro carioca, claro). O cuidado com o patrimônio público não depende de dinheiro.

Mário Lima Jr.
Mário Lima Jr.http://mariolimajr.com
Moro em São Gonçalo e toda semana escrevo sobre minha relação com a cidade.

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