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Asfalto e saneamento comunitário: esperar ou mãos à obra?

Asfalto e saneamento comunitário: esperar ou mãos à obra?

Asfalto e saneamento básico são problemas crônicos no nosso Brasil. Em muitas cidades, a promessa do “asfalto na porta” se renova de 4 em 4 anos, um intervalo eleitoral perfeito para angariar votos nos lugares mais populosos e necessitados.

Em estados como Paraná, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, por exemplo, já está sendo posta em prática a proposta do “Asfalto Comunitário”. Ela consiste na parceria entre prefeitura e moradores para promover a infraestrutura das localidades, deixando o processo mais rápido e barato.

Confira a proposta da Prefeitura de Foz do Iguaçu (PR) e como está sendo implementada na prática.

A ideia ganhou força porque, em muitos municípios, a arrecadação não sustenta o processo, sem falar na Lei de Responsabilidade Fiscal, que tenta regular o descontrole no orçamento dos prefeitos, criando alguns impeditivos. Ou seja, a saída tornou-se quase uma porta única: ou sofremos ou trabalhamos juntos.

Dona Sidnéia empurra a cadeira de rodas de seu filho Paulo Victor numa ponte improvisada em Guaxindiba, São Gonçalo – RJ
Dona Sidnéia empurra a cadeira de rodas de seu filho Paulo Victor numa ponte improvisada em Guaxindiba, São Gonçalo – RJ – Por Domingos Peixoto / Agência O Globo

Com uma busca no Google, você poderá encontrar diversos arranjos nesses moldes de parceria. Em alguns, a prefeitura custeia parte do processo e os moradores outra. Há também soluções onde o município dá isenção fiscal para baratear os custos e os cidadãos pagam a metragem do asfalto, de acordo com o tamanho de suas casas. Tudo muito interessante, não fosse um fato incômodo: você, pagador de impostos, deseja pagar duas vezes por aquilo que é direito seu?

O clássico asfalto em ano eleitoral

Em 2012, semanas antes das eleições, o governo fez questão de “reasfaltar” bairros com calçamento antigo, como o Paraíso, por exemplo, no intuito de angariar votos, com direito a candidatos a vereador passando com carros de som dizendo que “foi a pedido dele”. Na época, lançamos esse absurdo no SIM, sendo rechaçados pelos puxa-sacos eleitorais, é claro.

Motivos como esse, sempre nos fazem duvidar dos intuitos da prefeitura. E ainda pior: como os moradores não acompanham o processo, muita coisa é feita de qualquer jeito, com material de péssima qualidade, o que dá no conhecido “asfalto R$1,99”, aquele que em meses já “dissolve” com a primeira chuva, deixando muitos buracos por aí.

Carro cai no buraco em São Gonçalo. Uma obra feita às pressas em 2012, fez com que uma simples chuva em janeiro de 2013 não resistisse ao peso do carro e abrisse uma cratera no chão. Foto: Fabiano Rocha / Jornal Extra
Carro cai no buraco em São Gonçalo. Uma obra feita às pressas em 2012, ano eleitoral, fez com que uma simples chuva em janeiro de 2013 não resistisse ao peso do carro e abrisse uma cratera no chão. Foto: Fabiano Rocha / Jornal Extra

Mas, e se os moradores não tem dinheiro, qual a proposta?

Há algum tempo atrás, ainda era possível ver os “mutirões”, reunião entre pessoas da região, para promover a infraestrutura local. Ainda é possível ver isso acontecer quando o problema é a falta d’água. Porém, na questão do calçamento, essa mobilização não tem a mesma urgência, além de ser mais complexa.

Estamos em um período complicado no Brasil, onde o endividamento do país pede cortes de gastos. Uma das consequências é que menos dinheiro chegará nas prefeituras através dos governos federal e estadual. Nesse sentido, mais do que nunca, é necessário repensar se o calçamento e o saneamento não poderiam ser implementados de forma conjunta, onde comunidade e prefeitura dessem as mãos, trabalhando juntas, especialmente quando o assunto é “mão de obra”, uma das partes mais complicadas.

Será que as pessoas se negariam a promover as benfeitorias em seus próprios bairros?

Isso inverteria a lógica usada nos estados que citei no início, onde as pessoas pagam por parte da infraestrutura. Mas em São Gonçalo, muita gente não tem dinheiro para bancar, porém tem energia de sobra para fazer a sua cidade melhor.

Abaixo, um vídeo mostra o drama dos carros, pedestres e cadeirantes para transitar pela Estrada de Ipiíba. Foi publicado no grupo do Facebook “Queremos o Asfalto em Ipiíba”.  Clique e confira o drama dos moradores.

Vídeo publicado por Vanderlea Sant'Ana no grupo "Queremos Asfalto em Ipiíba" São Gonçalo – RJ
Vídeo publicado por Vanderlea Sant’Ana no grupo “Queremos Asfalto em Ipiíba” São Gonçalo – RJ

Quem apoiaria?

Mais uma vez, repito: é uma proposta complexa. Certamente, seria vetada pelos “líderes locais”, aqueles mesmos que querem ficar prometendo “asfalto e saneamento” para sempre. Eles vão dizer que isso é dever do governo, e que quando “eles estiverem no governo” vão acabar com a corrupção e levar o asfalto e o saneamento até você… Como sabemos, milagres divinos não fazem o calçamento “brotar” no chão, como mato. E a única coisa que cai do céu é chuva, que quando cai com força, alaga a rua inteira que não tem aquele saneamento básico necessário. O final? A chuva leva embora tudo o que Deus te deu.

É um ciclo. E só novas propostas e mãos à obra vão tornar São Gonçalo, e todas as cidades brasileiras, lugares melhores para se viver.

Foto de capa: Domingos Peixoto / Agência O Globo

Matheus Graciano
Matheus Gracianohttps://www.matheusgraciano.com.br
Matheus Graciano é o criador do SIM São Gonçalo, onde fez o meio de campo da revista eletrônica de 2012 a 2020. É designer que programa, escreve e planeja. Trabalha na Caffifa Agência e Consultoria Digital.

Asfalto e saneamento básico são problemas crônicos no nosso Brasil. Em muitas cidades, a promessa do “asfalto na porta” se renova de 4 em 4 anos, um intervalo eleitoral perfeito para angariar votos nos lugares mais populosos e necessitados.

Em estados como Paraná, Mato Grosso do Sul e Minas Gerais, por exemplo, já está sendo posta em prática a proposta do “Asfalto Comunitário”. Ela consiste na parceria entre prefeitura e moradores para promover a infraestrutura das localidades, deixando o processo mais rápido e barato.

Confira a proposta da Prefeitura de Foz do Iguaçu (PR) e como está sendo implementada na prática.

A ideia ganhou força porque, em muitos municípios, a arrecadação não sustenta o processo, sem falar na Lei de Responsabilidade Fiscal, que tenta regular o descontrole no orçamento dos prefeitos, criando alguns impeditivos. Ou seja, a saída tornou-se quase uma porta única: ou sofremos ou trabalhamos juntos.

Dona Sidnéia empurra a cadeira de rodas de seu filho Paulo Victor numa ponte improvisada em Guaxindiba, São Gonçalo – RJ
Dona Sidnéia empurra a cadeira de rodas de seu filho Paulo Victor numa ponte improvisada em Guaxindiba, São Gonçalo – RJ – Por Domingos Peixoto / Agência O Globo

Com uma busca no Google, você poderá encontrar diversos arranjos nesses moldes de parceria. Em alguns, a prefeitura custeia parte do processo e os moradores outra. Há também soluções onde o município dá isenção fiscal para baratear os custos e os cidadãos pagam a metragem do asfalto, de acordo com o tamanho de suas casas. Tudo muito interessante, não fosse um fato incômodo: você, pagador de impostos, deseja pagar duas vezes por aquilo que é direito seu?

O clássico asfalto em ano eleitoral

Em 2012, semanas antes das eleições, o governo fez questão de “reasfaltar” bairros com calçamento antigo, como o Paraíso, por exemplo, no intuito de angariar votos, com direito a candidatos a vereador passando com carros de som dizendo que “foi a pedido dele”. Na época, lançamos esse absurdo no SIM, sendo rechaçados pelos puxa-sacos eleitorais, é claro.

Motivos como esse, sempre nos fazem duvidar dos intuitos da prefeitura. E ainda pior: como os moradores não acompanham o processo, muita coisa é feita de qualquer jeito, com material de péssima qualidade, o que dá no conhecido “asfalto R$1,99”, aquele que em meses já “dissolve” com a primeira chuva, deixando muitos buracos por aí.

Carro cai no buraco em São Gonçalo. Uma obra feita às pressas em 2012, fez com que uma simples chuva em janeiro de 2013 não resistisse ao peso do carro e abrisse uma cratera no chão. Foto: Fabiano Rocha / Jornal Extra
Carro cai no buraco em São Gonçalo. Uma obra feita às pressas em 2012, ano eleitoral, fez com que uma simples chuva em janeiro de 2013 não resistisse ao peso do carro e abrisse uma cratera no chão. Foto: Fabiano Rocha / Jornal Extra

Mas, e se os moradores não tem dinheiro, qual a proposta?

Há algum tempo atrás, ainda era possível ver os “mutirões”, reunião entre pessoas da região, para promover a infraestrutura local. Ainda é possível ver isso acontecer quando o problema é a falta d’água. Porém, na questão do calçamento, essa mobilização não tem a mesma urgência, além de ser mais complexa.

Estamos em um período complicado no Brasil, onde o endividamento do país pede cortes de gastos. Uma das consequências é que menos dinheiro chegará nas prefeituras através dos governos federal e estadual. Nesse sentido, mais do que nunca, é necessário repensar se o calçamento e o saneamento não poderiam ser implementados de forma conjunta, onde comunidade e prefeitura dessem as mãos, trabalhando juntas, especialmente quando o assunto é “mão de obra”, uma das partes mais complicadas.

Será que as pessoas se negariam a promover as benfeitorias em seus próprios bairros?

Isso inverteria a lógica usada nos estados que citei no início, onde as pessoas pagam por parte da infraestrutura. Mas em São Gonçalo, muita gente não tem dinheiro para bancar, porém tem energia de sobra para fazer a sua cidade melhor.

Abaixo, um vídeo mostra o drama dos carros, pedestres e cadeirantes para transitar pela Estrada de Ipiíba. Foi publicado no grupo do Facebook “Queremos o Asfalto em Ipiíba”.  Clique e confira o drama dos moradores.

Vídeo publicado por Vanderlea Sant'Ana no grupo "Queremos Asfalto em Ipiíba" São Gonçalo – RJ
Vídeo publicado por Vanderlea Sant’Ana no grupo “Queremos Asfalto em Ipiíba” São Gonçalo – RJ

Quem apoiaria?

Mais uma vez, repito: é uma proposta complexa. Certamente, seria vetada pelos “líderes locais”, aqueles mesmos que querem ficar prometendo “asfalto e saneamento” para sempre. Eles vão dizer que isso é dever do governo, e que quando “eles estiverem no governo” vão acabar com a corrupção e levar o asfalto e o saneamento até você… Como sabemos, milagres divinos não fazem o calçamento “brotar” no chão, como mato. E a única coisa que cai do céu é chuva, que quando cai com força, alaga a rua inteira que não tem aquele saneamento básico necessário. O final? A chuva leva embora tudo o que Deus te deu.

É um ciclo. E só novas propostas e mãos à obra vão tornar São Gonçalo, e todas as cidades brasileiras, lugares melhores para se viver.

Foto de capa: Domingos Peixoto / Agência O Globo

Matheus Graciano
Matheus Gracianohttps://www.matheusgraciano.com.br
Matheus Graciano é o criador do SIM São Gonçalo, onde fez o meio de campo da revista eletrônica de 2012 a 2020. É designer que programa, escreve e planeja. Trabalha na Caffifa Agência e Consultoria Digital.

2 COMENTÁRIOS

  1. Sinceramente, não há mais em quem acreditar. Esta situação nunca mudará.
    Sou nascido, criado em São Gonçalo e sempre foi esta situação degradante conforme imagens acima.
    Já não voto há muitos anos em nenhum destes incompetentes e não contem com o meu voto, pois, nem de minha cama levanto para votar.

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  1. Sinceramente, não há mais em quem acreditar. Esta situação nunca mudará.
    Sou nascido, criado em São Gonçalo e sempre foi esta situação degradante conforme imagens acima.
    Já não voto há muitos anos em nenhum destes incompetentes e não contem com o meu voto, pois, nem de minha cama levanto para votar.

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