Independente do credo, o gonçalense gosta de dizer que na sua cidade se faz o maior tapete de sal de Corpus Christi da América Latina. Também gostamos de dizer que anualmente, milhões de evangélicos saem às ruas marchando e cantando para Jesus.
Orgulho da coragem de Manoel Avelino de Souza e, posteriormente, Waldemar Zarro que, num período de perseguição moral aos evangélicos, criaram a primeira igreja evangélica da cidade, a Primeira Igreja Batista de São Gonçalo.
É gostoso subir o Monte das Oliveiras, em Amendoeira, e ser contagiado com a paz que emana daquele lugar. Orgulho de morar em uma cidade onde, no inicio do século 20, Zélio Fernandino de Moraes abria a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, em Neves, nascendo ali a Umbanda, a única religião 100% brasileira. Não fosse o descaso de nossos gestores pela história, nosso patrimônio ainda estaria de pé.
Uma rua tranquila de paralelepípedo no Barro Vermelho, de nome Heitor Levy também deveria ser orgulho para todos nós gonçalenses. Infelizmente, nem todos conhecem a história que rodeia aquele lugar. Quem foi Heitor Levy e o que ele fez por São Gonçalo?
Heitor Levy foi um dos engenheiros responsáveis pela construção do Cristo Redentor. Para que o leitor entenda o que São Gonçalo tem a ver com uma das sétimas maravilhas do mundo moderno, vou contar uma breve história.
Não existe nada que simbolize mais o Brasil do que a imagem do Cristo Redentor de braços abertos. Talvez por vivenciarmos um mundo cheio de tecnologia não temos a noção exata de quanto foi trabalhosa a construção de um monumento dessa proporção. Antes mesmo da sua inauguração no dia de Nossa Senhora da Aparecida, 12 de outubro de 1931, vários estágios tinham sido alcançados, e o primeiro deles em 1918 – ano do fim da primeira guerra mundial e o mundo clamava por paz-, foi à própria idealização de se construir uma imagem do cristo para comemoração do centenário da Independência do Brasil.
Então através de concurso o melhor projeto escolhido foi do engenheiro Heitor da Silva Costa. Pensou-se em um cristo carregando uma cruz em uma mão e um globo na outra, mas uma antena de radiotelefonia no formato de uma cruz já existente em 1922 serviu de inspiração para construção de um cristo de braços abertos.
Ao contrário de que muitos pensam o Cristo não foi presente de nenhuma nação ao Brasil, foi sim esforço e suor de milhares de católicos que ajudaram com mil reis cada através de campanha em todo o Brasil. Foram 10 anos de arrecadação até somar a quantia necessária para a obra.
Inicialmente foi cogitada a escultura toda em metal como a Estatua da Liberdade, mas Heitor da Silva Costa considerava feio o efeito do cobre a longa distância e principalmente temia que em uma guerra o monumento fosse destruído com intuito de virar artilharia, como aconteceu na Rússia com a Revolução Bolchevique, onde o governo soviético mandou fundir todas as estatuas metálicas de santos para aproveitar o metal.
A obra começou em 1926, sob a responsabilidade do engenheiro Heitor Levy, mas faltava um detalhe. Qual artista escultor seria responsável por dar forma a face e as mãos do cristo. Uma comissão foi enviada a Paris e cogitou-se Auguste Rodin, mas a responsabilidade acabou caindo nas mãos do artista franco-polonês Paul Landowski.
Na realização das mãos o artista valeu da ajuda da amiga brasileira poetisa Margarida Lopes de Almeida que ofereceu suas próprias mãos para modelagem das do cristo. A cabeça foi toda feita em moldes de gesso divididos em 50 partes para serem montadas peça por peça aqui no Brasil.
É ai que entra o personagem principal da nossa história, a pessoa quem deu nome a nossa tranquila rua. Heitor Levy era proprietário de uma chácara exatamente nas mediações entre hoje a rua que leva o seu nome e a Siqueira Campos e foi nesse lugar que Levy utilizou os moldes enviados por Landowski para montar e juntar as peças dando forma à face do monumento mais famoso do Brasil. Moradores antigos relatam que o lugar onde ocorreu a montagem é onde hoje está localizado o Colégio Santa Catarina.
É importante destacar que Heitor Levy estava tão engajado na obra que se mudou de mala e cuia para o corcovado. Era judeu, mas com tanto envolvimento e paixão converteu-se ao catolicismo e um vidrinho colocou o seu nome e o de toda família e o misturou com a massa de concreto do coração da estátua.
São Gonçalo é cheia de credos e religiões e ao contrário de muitas cidades no mundo todas se respeitando e convivendo em paz e harmonia. O gonçalense sabe muito bem o que é amar ao próximo como a ti mesmo e quis o destino que fossemos presenteados com um pedacinho da história que marca a construção dessa maravilha do mundo moderno.
Axé, Amém, Inshallah, Maktub, Aleluia, Salam, Shalon, Que Assim Seja São Gonçalo !!!