Independente do credo, o gonçalense gosta de dizer que na sua cidade se faz o maior tapete de sal de Corpus Christi da América Latina. Também gostamos de dizer que anualmente, milhões de evangélicos saem às ruas marchando e cantando para Jesus.
Orgulho da coragem de Manoel Avelino de Souza e, posteriormente, Waldemar Zarro que, num período de perseguição moral aos evangélicos, criaram a primeira igreja evangélica da cidade, a Primeira Igreja Batista de São Gonçalo.
É gostoso subir o Monte das Oliveiras, em Amendoeira, e ser contagiado com a paz que emana daquele lugar. Orgulho de morar em uma cidade onde, no inicio do século 20, Zélio Fernandino de Moraes abria a Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade, em Neves, nascendo ali a Umbanda, a única religião 100% brasileira. Não fosse o descaso de nossos gestores pela história, nosso patrimônio ainda estaria de pé.
![De Braços Abertos para São Gonçalo – Sim São Gonçalo](https://i0.wp.com/simsaogoncalo.com.br/wp-content/uploads/2014/03/bracos-abertos-sg-a.jpg?resize=696%2C394&ssl=1)
Uma rua tranquila de paralelepípedo no Barro Vermelho, de nome Heitor Levy também deveria ser orgulho para todos nós gonçalenses. Infelizmente, nem todos conhecem a história que rodeia aquele lugar. Quem foi Heitor Levy e o que ele fez por São Gonçalo?
Heitor Levy foi um dos engenheiros responsáveis pela construção do Cristo Redentor. Para que o leitor entenda o que São Gonçalo tem a ver com uma das sétimas maravilhas do mundo moderno, vou contar uma breve história.
Não existe nada que simbolize mais o Brasil do que a imagem do Cristo Redentor de braços abertos. Talvez por vivenciarmos um mundo cheio de tecnologia não temos a noção exata de quanto foi trabalhosa a construção de um monumento dessa proporção. Antes mesmo da sua inauguração no dia de Nossa Senhora da Aparecida, 12 de outubro de 1931, vários estágios tinham sido alcançados, e o primeiro deles em 1918 – ano do fim da primeira guerra mundial e o mundo clamava por paz-, foi à própria idealização de se construir uma imagem do cristo para comemoração do centenário da Independência do Brasil.
Então através de concurso o melhor projeto escolhido foi do engenheiro Heitor da Silva Costa. Pensou-se em um cristo carregando uma cruz em uma mão e um globo na outra, mas uma antena de radiotelefonia no formato de uma cruz já existente em 1922 serviu de inspiração para construção de um cristo de braços abertos.
![De Braços Abertos para São Gonçalo – Sim São Gonçalo](https://i0.wp.com/simsaogoncalo.com.br/wp-content/uploads/2014/03/bracos-abertos-sg-e.jpg?resize=696%2C531&ssl=1)
Ao contrário de que muitos pensam o Cristo não foi presente de nenhuma nação ao Brasil, foi sim esforço e suor de milhares de católicos que ajudaram com mil reis cada através de campanha em todo o Brasil. Foram 10 anos de arrecadação até somar a quantia necessária para a obra.
Inicialmente foi cogitada a escultura toda em metal como a Estatua da Liberdade, mas Heitor da Silva Costa considerava feio o efeito do cobre a longa distância e principalmente temia que em uma guerra o monumento fosse destruído com intuito de virar artilharia, como aconteceu na Rússia com a Revolução Bolchevique, onde o governo soviético mandou fundir todas as estatuas metálicas de santos para aproveitar o metal.
A obra começou em 1926, sob a responsabilidade do engenheiro Heitor Levy, mas faltava um detalhe. Qual artista escultor seria responsável por dar forma a face e as mãos do cristo. Uma comissão foi enviada a Paris e cogitou-se Auguste Rodin, mas a responsabilidade acabou caindo nas mãos do artista franco-polonês Paul Landowski.
Na realização das mãos o artista valeu da ajuda da amiga brasileira poetisa Margarida Lopes de Almeida que ofereceu suas próprias mãos para modelagem das do cristo. A cabeça foi toda feita em moldes de gesso divididos em 50 partes para serem montadas peça por peça aqui no Brasil.
É ai que entra o personagem principal da nossa história, a pessoa quem deu nome a nossa tranquila rua. Heitor Levy era proprietário de uma chácara exatamente nas mediações entre hoje a rua que leva o seu nome e a Siqueira Campos e foi nesse lugar que Levy utilizou os moldes enviados por Landowski para montar e juntar as peças dando forma à face do monumento mais famoso do Brasil. Moradores antigos relatam que o lugar onde ocorreu a montagem é onde hoje está localizado o Colégio Santa Catarina.
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Arquivo CEIPN/livro “Corcovado – A Conquista da Montanha de Deus”
É importante destacar que Heitor Levy estava tão engajado na obra que se mudou de mala e cuia para o corcovado. Era judeu, mas com tanto envolvimento e paixão converteu-se ao catolicismo e um vidrinho colocou o seu nome e o de toda família e o misturou com a massa de concreto do coração da estátua.
São Gonçalo é cheia de credos e religiões e ao contrário de muitas cidades no mundo todas se respeitando e convivendo em paz e harmonia. O gonçalense sabe muito bem o que é amar ao próximo como a ti mesmo e quis o destino que fossemos presenteados com um pedacinho da história que marca a construção dessa maravilha do mundo moderno.
Axé, Amém, Inshallah, Maktub, Aleluia, Salam, Shalon, Que Assim Seja São Gonçalo !!!