O que você lerá a seguir é uma narrativa de ficção, inspirada na realidade gonçalense.
Contrariado, o secretário mandou duas mensagens pelo WhatsApp, a primeira para o seu braço direito, responsável pelo Serviço de Inteligência, e a segunda para o comandante da Guarda Municipal. O conteúdo foi o mesmo: “Roubaram carro prefeito corola prata atividade”.
O telefone do Secretário Municipal de Segurança Pública tocou depois das nove da noite.
– Porra, secretário, acabaram de roubar o carro do prefeito! Meteram a pistola na nossa cara e ameaçaram matar o homem aqui na Rua General Barcelos, esquina com a Avenida Presidente Kennedy.
– O que vocês estavam fazendo aí a essa hora, Marcão? Já disse que a cidade está violenta, o prefeito precisa encerrar o expediente mais cedo.
– A gente trabalhou até tarde hoje pra resolver aquela merda do lixo que não é recolhido. No caminho pra casa dele, dois marginais apareceram do nada na frente do carro gritando “Perdeu, perdeu”. Só deu tempo de sair do veículo.
– Tá. Pega um Uber aí, leva o prefeito pra casa e amanhã a gente conversa. Quem está perdendo o capítulo da novela sou eu.
– Vê o que o senhor pode fazer, por favor.
Contrariado, o secretário mandou duas mensagens pelo WhatsApp, a primeira para o seu braço direito, responsável pelo Serviço de Inteligência, e a segunda para o comandante da Guarda Municipal. O conteúdo foi o mesmo: “Roubaram carro prefeito corola prata atividade”. Quando recebeu a confirmação de visualização das mensagens, o secretário de Segurança Pública se sentiu mais tranquilo. No dia seguinte um agente secreto da Inteligência deu o pronto.
– Secretário, achamos o carro do prefeito. Mandamos deixar lá em Guaxindiba.
– Ótimo, depois entrega a conta do resgate ao secretário de Fazenda e diz que eu mandei. Qual o estado do veículo? Algum estrago?
– Não, tá inteiro. Tem os pertences do prefeito, do Marcão e também tá cheio de bolsa, celular, relógio… usaram o carro pra fazer arrastão até Itaboraí.
– Esses caras estão de sacanagem, não respeitam nem o prefeito, são uns animais.
– É, desse jeito não dá pra trabalhar. Não se contentam em roubar só a população. O senhor vem pro local?
– Guaxindiba é longe pra cacete, vou não. Ainda nem tomei café.
– A imprensa chegou antes da gente, estão fotografando o veículo. O comandante da Guarda Municipal acabou de chegar.
– Merda, então tenho que ir. Segura os jornalistas aí que eu preciso aparecer na foto, senão vão achar que foi só trabalho da Guarda. A oposição tá querendo derrubar todo mundo.