Você que sempre passa pela BR-101, já deve ter percebido a Ilha das Flores, na altura do Paiva. Hoje, ela está em posse da Marinha do Brasil. Mas nem sempre foi assim.
Em março de 2017, rolou o Festival Gastronômico que aconteceu na Ilha. Uma oportunidade ímpar de vermos o o pôr-do-sol bem na beira do cais, de frente para a boca da Baía de Guanabara, um dos bens naturais mais desprezados no estado do Rio de Janeiro.
A origem do nome “Ilha das Flores”
“No início do século XIX, a Ilha das Flores pertencia a Delfina Felicidade do Nascimento Flores e seria denominada de Santo Antônio. É possível que o seu nome atual seja por conta da proprietária, pois o local deveria ser conhecido como a “ilha da Dona Flores”, que com o passar do tempo ficou Ilha das Flores. Em 1834, após a criação da Província do Rio de Janeiro, provavelmente, por alguma dívida da proprietária, a ilha passou ao tesouro provincial. Foi apregoada publicamente em 17 de agosto, em “praça de Juízo de Feitos” e arrematada por Maria do Leo Antunes (ESCRITURA, 1957a).”
A hospedaria de imigrantes
Em 1883, foi criada a primeira hospedaria de imigrantes do Brasil bem ali na ilha. Era uma forma de receber os imigrantes vindos de vários continentes que desembarcavam no porto do Rio de Janeiro, então capital do Brasil.
Vindos da Europa e Ásia, eles passaram a fazer parte dos planos para substituir a mão de obra escrava, abolida em 1888. Além da força de trabalho, eram fundamentais nas políticas de embranquecimento da população, que pretendia deixar o Brasil “mais branco”, dada a diferença numérica entre escravos negros e a população branca.
Em 1917, por conta da Primeira Guerra Mundial, as questões de segurança nacional fizeram a ilha ser transferida para as mãos do Ministério da Marinha. Nesse período, começou a ser usada também como prisão militar.
O uso prisional também aconteceu em outros dois importantes momentos na história brasileira. Podemos citar a década de 30, no primeiro governo Getúlio Vargas, e também a ditadura militar de 1964 a 1985.
Casa dos Fuzileiros Navais e clube do Marinheiro
A Hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores funcionou até 1966. Em 1968, o Ministério da Marinha passou a ocupar o arquipélago, instalando a Tropa de Reforço do Corpo de Fuzileiros Navais, em 1971.
Além de base da instituição, a Ilha das Flores de hoje também abriga o clube do Marinheiro, espaço onde aconteceu o Festival Gastronômico. Há também um restaurante no local, aberto ao público. Se você deseja ir a um lugar diferente na cidade, vale a pena conhecer o espaço na hora do almoço.
Ilha das flores, BR-101 e baía de guanabara
Ir à lha naquele fim de tarde de céu claro foi inspirador. Especialmente para nós, que vivemos nas caóticas cidades da região metropolitana. Observar a Baía de Guanabara daquele ponto é algo encantador.
Com a construção da BR nos anos 80, a Ilha das Flores passou a ter conexão direta com São Gonçalo por terra. As outras ilhas pertencentes ao arquipélago foram unidas por sucessivos aterramentos ao longo dos anos. Mesmo não sendo comparável, a vista da BR, assim como a da ilha, dá um “sossego na alma”, especialmente para nós que passamos estressados pela via.
O ponto negativo é o lixo doméstico. Lançado todos os dias na baía por nós, através do esgoto não tratado jogado nos rios, o lixo flutuante é visível. Sem falar que, quando a maré está baixa os problemas se tornam ainda mais aparentes, nos fazendo lembrar do quanto um dos pontos mais bonitos do Estado do Rio e de São Gonçalo foram poluídos por nosso deficiente saneamento básico.
Nossa sorte é que, mesmo depois de tantas interferências do ser humano, o visual continua espetacular.
Serviço: Museu da imigração da Ilha das Flores, funciona no mesmo espaço do Comando da Tropa de Reforço. De terça a domingo, de 9h às 17h. Entrada gratuita.
Fonte: Centro de Memória da Imigração da Ilha das Flores (abril/2017)
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