Sempre que ouço a palavra “renovação”, fico desconfiado. E conversando com as pessoas, sinto que muita gente tem a mesma sensação. Afinal, numa São Gonçalo parada, Rio de Janeiro estagnado e o avanço veloz de um estado paralelo, ainda é possível renovar a república?
Em 130 anos, desde que Benjamin Constant planejou o golpe e Deodoro proclamou a República mudando nossa forma de governo, tivemos avanços estruturais e populacionais. Mas no detalhe, algumas coisas só mudaram de nome. Uma delas é o coronelismo.
Mas a imagem dos “coronéis” mudou. Já não é mais o líder rural que exerce o papel de juíz, comerciante, polícia e político nas cidadezinhas. Hoje, eles chefes locais das regiões mais pobres das cidades brasileiras. São conhecidos como milicianos, mafiosos, dono do bairro, traficantes.
Do início da República para cá, mudaram também as formas de controle. Mas elas continuam com foco na violência física e econômica. Vendem gás, internet, transporte e, até mesmo, casas. Sim, imóveis.
E não podemos esquecer, claro, do ponto principal dessa parceria: os políticos. Esses podem ser desde os políticos clássicos, que se dizem amigos do povo, até aqueles que que usam religião como mercadoria, tendo como trocas, também, o voto.
Muitos desses “novos coronéis” só permitem que determinados políticos entrem em suas comunidades para fazer benesses ou propaganda política. Prática que está se tornando cada vez mais comum.
E como renovar a república assim?
Em julho de 2019, eu e mais 1399 pessoas, fomos aprovados para o ingresso da escola de política chamada RenovaBR. Do início do curso até aqui, tivemos aulas com economistas, sanitaristas, administradores, pessoas de diversos matizes ideológicos e expertises da administração pública. Das teorias às práticas bem sucedidas. Algo que deveria ser obrigatório a todos que almejam participar da vida pública, eleitos ou não.
Em paralelo, diversos outros movimentos como o Acredito, Agora, Raps, trabalham na criação de novas práticas e soluções para evoluirmos o ambiente público brasileiro.
Em novembro de 2019, fui à uma dessas reuniões do Movimento Acredito para compreender mais como eles buscam atuar. Estavam lá os deputados federais Tábata Amaral (SP) e Felipe Rigoni (ES), além de Renan Ferreirinha, deputado estadual pelo RJ. Todos também formados na turma do RenovaBR de 2018.
No auditório lotado da Universidade Cândido Mendes (Centro do Rio), era possível ver uma quantidade grande de gente com menos de 30 anos. E o mais surpreendente é que era uma sexta à noite, momento ainda mais inusitado na semana.
Ainda sim, mesmo com todo o entusiamo pela renovação que poderá ser feita por pessoas novas com novas ideias, não nos é permitido perder o foco da questão. Afinal, o recorte social e econômico que se via na sala era flagrante, com pessoas que ocupam a fatia mais instruída e rica no Brasil, segundo dados do próprio IBGE.
No Rio de Janeiro de hoje, se o apoio à formação de novas lideranças não passar pelas regiões mais pobres, afetadas por esse “novo coronelismo”, a tendência é que estes elejam e reelejam os seus, ganhando numericamente em todas as decisões dos parlamentos e executivos. E uma possível consequência é o desânimo e acomodação de quem, um dia, acreditou em renovar a república.
Espero que todos os novos líderes desse atual momento do Brasil fiquem atentos a essa realidade. Afinal, os novos coronéis correm numa velocidade que o poder público atual já não consegue mais acompanhar.